sábado, 29 de agosto de 2015

A prancha de Aprendiz (Blog A Partir Pedra).

Por Rui Bandeira. Para o Aprendiz que se entrosou no grupo e que vem fazendo o seu trabalho, com assiduidade e diligência, chega sempre um momento em que um Mestre – por regra o 2.º Vigilante, mas pode ser qualquer Mestre -, no meio de uma descontraída conversa, a propósito ou aparentemente a despropósito, lança, como quem não quer a coisa, a pergunta: - Então, já escolheste o tema da tua Prancha? Este é o primeiro sinal que é dado ao Aprendiz que os Mestres da Loja entendem que o seu trabalho está a ser frutífero e que se aproxima a hora de novo avanço. O tempo da integração e da adaptação decorreu e está próximo de terminar, o tempo de progredir está-se a aproximar. Não quer isto dizer que a progressão, o avanço esteja já aí ao virar da esquina. Não é incomum, pelo menos na Loja Mestre Affonso Domingues, que, entre o momento em que o Aprendiz é incentivado a começar a elaboração da sua prancha e aquele em que deixará de ser Aprendiz medeiem uns bons seis meses, ou mesmo mais. É que, entre o primeiro incentivo ao Aprendiz à elaboração por este de uma prancha e a conclusão por este da dita, vai seguramente decorrer algum tempo. E depois há que agendar a sua apresentação em Loja. E, decorrida esta, haverá que aguardar pela ocasião propícia para a Passagem do Aprendiz à fase seguinte do seu percurso maçónico. E já neste espaço deixei consignado (por várias vezes) que pressa e maçonaria não ligam bem...
A elaboração pelo Aprendiz de uma Prancha é essencial para possibilitar o seu avanço de grau. A Prancha do Aprendiz é como que o relatório do seu trabalho, o registo da sua mudança, a exposição da sua evolução, patenteados perante a Loja. Não é um exame – o Aprendiz não tem que provar a sua proficiência em Simbolismo, Aperfeiçoamento e Artes e Ofícios Correlativos... Aliás, tudo o que o Aprendiz tem de provar, tem de o fazer a si próprio, apenas e tão só, e a mais ninguém. Se ele quiser lograr alguém, só ele será enganado, mais ninguém... A Prancha do Aprendiz é, antes do mais e para além de tudo o mais, apenas mais um trabalho que este deverá executar. Com a diferença que este se destina, não apenas ao interior de si próprio, mas também a ser apresentado, escrutinado, apreciado em Loja. O essencial interesse da Prancha de Aprendiz é a sua feitura. Mais uma vez, o que interessa é o percurso, não a meta. Também aqui o essencial é o trabalho que o Aprendiz realiza e não propriamente o seu resultado final. Há Pranchas de Aprendiz belas e vulgares. Enciclopédicas e triviais. Extensas e breves. Profundas e superficiais. Enfeitadas e toscas. Literatas e simples. Imaginativas e insossas. Há de tudo. Não importa. O que importa é o investimento pessoal que o Aprendiz fez na sua elaboração e, com ele, o que aprendeu, o que sistematizou, a aresta que limou. Apresentada que esteja a prancha, ela é sempre, na Loja Mestre Affonso Domingues, objecto de apreciação e comentário dos Mestres presentes. Normalmente, todos os Mestres, ou quase, se pronunciam. E todos os que o fazem, qualquer que seja o nível da prancha, do mais esplendoroso e credor de admiração, ao mais simples, nos seus comentários lobrigam algo de positivo, algo de bom, e algo de negativo, algo susceptível de melhoria. Pode o trabalho ser objecto dos mais entusiásticos encómios – mas não deixará de ver apontado um, insignificante que seja, aspecto em que se declara que podia ser ainda melhor. Pode o trabalho sofrer as mais ferozes críticas – mas não deixará de se realçar, por minúsculo que seja, o aspecto merecedor de uma referência elogiosa. Porque todo o trabalho dedicadamente feito merece encómios e nenhum trabalho humano é perfeito. Porque foi feito e apresentado por um dos nossos. E os nossos têm de nós sempre o elogio misturado com a censura, para que nunca sucumbam à tentação de subir às alturas que causaram a queda de Ícaro; e os nossos merecem de nós sempre a crítica lúcida, verdadeira e leal, mas sempre temperada com o incentivo do nosso reconhecimento do que de bom é feito e da sua capacidade de fazer melhor. Normalmente, as três últimas intervenções são, respectivamente, do 2.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Aprendizes) – que termina a sua intervenção declarando que entende que o Aprendiz está pronto para avançar para o grau seguinte -, do 1.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Companheiros) – que termina a sua intervenção manifestando a sua disponibilidade para receber o Aprendiz que apresentou a Prancha na sua Coluna – e do Venerável Mestre – que sintetiza tudo o que foi dito, anunciando que oportunamente se procederá ao aumento de salário (isto é, à passagem de grau) do autor da prancha. Assim se declara o reconhecimento da Loja da evolução que o Aprendiz teve desde que foi iniciado. Assim funciona e trabalha a Loja Mestre Affonso Domingues. E não nos temos dado mal com o sistema... Análise de Rui Bandeira sobre dúvidas recorrentes: "O tema da prancha é livremente escolhido pelo seu autor. Se este o pretender, podem ser-lhe dadas sugestões, que ele aproveitará ou não. Deve a prancha de Aprendiz corresponder à simbologia própria desse grau. Não faz sentido que, por exemplo, o Aprendiz apresente uma prancha cometando símbolos próprios do grau de Mestre. Não tanto por ele, mas pelos demais Aprendizes. Já várias vezes expressei que, em Maçonaria, o tempo e a sequência de apreensão de conhecimentos é importante. Não se mandam refazer pranchas. Mas as pranchas dos Aprendizes devem ser revistas pelo 2.º Vigilante, que poderá e deverá aconselhar modificações, no sentido de as melhorar. Mas o Aprendiz é livre de aceitar ou não os conselhos dados. Em caso algum se faz censura. Mesmo na hipótese que acima exemplifiquei, o máximo que se poderia fazer era informar que tal prancha não era considerada adequada para ser apresentada no grau de Aprendiz, mas apenas no grau de Mestre. O seu autor deveria reservá-la para o fazer nesse grau, quando o pudesse fazer. Claro que isso implica que ascenda primeiro ao grau de Mestre e, para fazer esse percurso, terá de apresentar uma (outra) prancha adquada ao grau de Aprendiz... Só nestas circunstâncias existe uma situação parecida com o "mandar fazer de novo". Não tem nada a ver com humildade ou falta dela - apenas com a adequação do trabalho apresentado ao nível de evolução dos destinatários do mesmo". FONTE: Blog A Partir Pedra. Acesso em http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2008/01/prancha-de-aprendiz.html

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