quarta-feira, 16 de setembro de 2015

MAÇONARIA: RITO E RITUAL DE EMULAÇÃO (by Formadores de Opinião).

A palavra “rito” tem sua origem na língua latina; ritus, -us que significa cerimônia. Rito é um conjunto de rituais; é uma sucessão de palavras, gestos e atos que, de maneira repetitiva, compõe uma cerimônia completa. O rito pode ser religioso ou não. O ritual, apesar de seguir um padrão ao ser executado, não deve ser mecanizado, automatizado. Ritual é, então, a execução de uma cerimônia, o experimentar de sensações, a motivação de intentos, de valores, a vivência de um rito, a vivência de uma cerimônia. Um rito, por exemplo, o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) é composto por dezenas de rituais: 3 dos graus simbólicos, 30 dos altos graus, rituais de iniciação, de elevação, de exaltação, de instalação e posse de Venerável, reassunção de Venerável, ritual de banquete, ritual de bodas, ritual de pompa fúnebre, etc. O ritual é, pois, um conjunto de atividades organizadas, no qual, as pessoas que o executam se expressam por meio de gestos, de símbolos, de linguagem (também, do silêncio) e de comportamentos, que transmitem um sentido coerente com um objetivo definido. O caráter comunicativo do rito é de extrema importância, pois não é qualquer atividade organizada que constitui um rito. Os ritos podem ser jurídicos, militares, morais, religiosos, diplomáticos, maçônicos, etc. São empregados sempre que se pretende impor uma determinada ordem a ser seguida, uma determinada regra, uma diretriz e, por força de lei, ou de costume ou, ainda, por consenso; deve ser seguido, sob pena de infringir o sentido, o intrínseco, que ele pretende simbolizar. A vida é repleta de ritos que são seguidos até sem se perceber, de tão arraigados que estão no viver. Efetivamente, vive-se e respira-se ritos diuturnamente. Exemplos: ao se apertar a mão, num cumprimento, está-se executando um rito que, no passado, simbolizava: “ao apertar sua mão ocupo-a tal que me é impossível, também, desembainhar uma espada contra você”. Vale dizer: “sou amigo, não sou agressivo”. Ninguém, hoje pensa em espadas, ao apertar uma mão. O beijo é outro rito: demonstração de afeto, carinho. Simboliza: “ao pressionar meus lábios estou transferindo e usufruindo um sopro de vida a você”. Quando você beija sua esposa não pensa em transferir um sopro a ela. Não se pensa assim ao beijar. Liturgia (λειτουργία, “serviço público” ou “trabalho público”) é composto de “laós” (povo) e -urgía (trabalho, ofício). Modernamente, significa celebração de um ritual formal e elaborado. A liturgia pode ser religiosa ou não. Místico (μυστικός, “relativo aos mistérios”), significava, originalmente, a crença que admite a comunicação do homem com Deus. Hoje, num sentido mais lato, místico é um iniciado que alcançou (ou que detém) um segredo importante. Tem, também, o sentido de contemplação. Uma pessoa mística é contemplativa. A palavra, entretanto, tem sido usada para todos os tipos de conhecimento esotérico (religioso ou não), isto e’, conhecimento não susceptível de verificação, destinado a uns poucos iniciados. Diferentemente do sentido de exotérico, que é o conhecimento não susceptível de verificação, destinado à ampla divulgação. O esoterismo e o exoterismo podem ser religiosos ou não. Conhecimento não susceptível de verificação não quer dizer, necessariamente, que não seja racional. Mítico (relativo a mito, do grego μύθος – mythos) é aquilo que pertence a um mito ou que é originado de um mito. Mito é um relato fantástico, de tradição oral, que, geralmente, guarda um fundo de verdade, heroico, narrado com objetivo de pregar um fundamento moral. É uma alegoria. Os rituais maçônicos são místicos (porque esotérico destinado a uns poucos iniciados, em cada grau), são míticos (porque alegórico com fundamento moral) e são não-religiosos. Uma vez definido estes conceitos, é importante lembrar que, na maçonaria, num ritual, cada palavra, cada gesto, cada ação (incluindo o silêncio), têm um significado simbólico. Nada é feito no ritual sem uma razão, sem um sentido. Na maioria das vezes, não se sabe o significado de cada uma das ações. Mas, certamente, há significados simbólicos que, aos poucos, se descobre, se desvenda e se revela (isto é, retira-se os véus), em cada execução do ritual. Aí está uma das riquezas do ritual: a descoberta incessante, contínua, de cada significado simbólico. No final deste trabalho dar-se-á alguns exemplos simbólicos, desvendados no Rito Brasileiro. Raramente, absorvem-se integralmente os textos dos rituais. Absorve-se, assimila-se, sempre, imagens isoladas, símbolos isolados, frases e fragmentos, dependendo dos interesses imediatos e do estado mental de cada um. Estes fragmentos passam como fluídos pelas mentes de quem participa. Interessante e importante esta observação: absorve-se, sempre, de forma fragmentária. Por isso, talvez, os rituais são tão repetitivos. A cada execução do ritual, a cada repetição, seleciona-se, inconscientemente, aquilo que se absorve. A seleção é uma escolha de textos benéficos, generosos, isto é, tem um viés polarizado pelos interesses imediatos e atuais de cada indivíduo. Por vezes, percebe-se que, a cada vivência do ritual, encontra-se pequenas coisas que antes não se havia dado conta. E dá-se conta que estas pequenas coisas são importantes. É como se o ritual se renovasse, embora permaneça o mesmo há muitos séculos. É como se o ritual se reinterpretasse e se corrigisse a si mesmo. Isto é fantástico e depende só da mente, das sensações, dos hábitos, da existência, do espírito de cada um. Uma afirmação muito importante: toda corporação que usa rituais litúrgicos, religiosos ou não, todo e qualquer ritual e toda ritualística é, apenas, um meio e, nunca, um fim. Coloca-se, então, uma questão fundamental: meio para quê? 2. Origens do ritual: O ritual maçônico é muito antigo. Originou-se, provavelmente, no século XIV. Nenhuma pessoa o “compôs” ou o “inventou” — não existiu um autor. Representava a perpetuação das atividades e práticas dos maçons operativos (maçons de ofício, pedreiros e construtores), de seus usos e aplicações de trabalho e de seus costumes. Não era nem mesmo um ritual; foi simplesmente chamado de “trabalho” ou “work”. Desde o século XIV e até hoje, no Reino Unido, é chamado de “work” e não de ritual. Ritual e rito são palavras que apareceram, na maçonaria, em França, no século XVIII. Foram adotadas pelos norte-americanos, brasileiros, alemães e demais países continentais, mas não pelos britânicos. Do que constava esse “work” dos maçons operativos ou maçons de ofício? Um exercício de imaginação, baseado em evidências, pode-se visualizar um ritual (“work”). O que está abaixo são conjecturas, suposições. Não existe nada escrito sobre isso. Todo novato que entrava para uma guilda de maçons operativos tinha, certamente, que fazer um juramento, promessa ou compromisso. Por quê? Juramento para não revelar os segredos de construção, pois não havia plantas, planejamentos ou cálculos, somente segredos, conhecimento pragmático, conhecimento que importa o êxito prático e desprovido de teorias. Acresce o fato que a grande maioria dos maçons operativos era analfabeta. E as catedrais góticas levavam muitas gerações para serem construídas. A catedral de Notre Dame, em Paris, por exemplo, demandou 182 anos de construção (seis gerações, à época). Uma ideia de como trabalhavam e viviam os maçons operativos na construção de catedrais, pode ser lida num romance de Ken Follet1 (Follet, 1992) — “Os Pilares da Terra”. Embora romance, as circunstâncias de acontecimentos e a conjuntura são bastante verdadeiras. Todo conhecimento de construção era pragmático e esses segredos de como construir eram transmitidos oralmente. Ao novato, fornecia-se instruções de como trabalhar; obviamente, era provido de ferramentas e instruções de seu uso. Era ensinado, também, como manter as ferramentas em boas condições de uso e instruído sobre as responsabilidades do novato. A guilda era presidida e supervisionada por um Mestre e seus assistentes. A nomenclatura da época, no Reino Unido, era Master of the Lodge (Mestre da Loja, posteriormente, nomeado Venerável Mestre) e os assistentes eram warden (pessoa que cuida de um lugar determinado e assegura que as regras são obedecidas, ou seja, zeladores, guardadores, posteriormente nomeados Vigilantes). Havia, também, os “trabalhadores do chão” ou “oficiais do chão” (officials of the ground) que transmitiam ordens do Mestre da Loja para os Zeladores; esses “trabalhadores do chão” deram origem aos Diáconos, e nas lojas do continente europeu, especialmente as francesas, aos Expertos. Um “comunicador” organizava o trabalho; este “comunicador” deu origem ao Diretor de Cerimônias. O Mestre e seus assistentes, também, davam instruções aos novatos. Este grupo de trabalhadores desenvolveu sua própria terminologia, denominou outros cargos de seus oficiais. Forneceu, também, a cada membro do grupo, modos reservados de identificação — senhas, palavras sagradas — para provar sua condição de membro do grupo no estrangeiro ou entre estranhos. Cada guilda cuidava de seus próprios trajes, aventais de couro para proteger suas roupas que os identificavam e se tornaram seu distintivo. Os pagamentos, salários e as contribuições para uma caixa de previsão para o futuro, para acidentes (futura previdência), para as viúvas em caso de morte do maçom (surgiu, então, o Tronco da Viúva), consequentemente, precisaram de um tesoureiro. Analogamente, os registros de trabalhos, de horários, etc. necessitaram a nomeação de um secretário. Estava formada a loja e, com a perpetuação de usos, costumes e práticas, estava formado o ritual (“work”) de transmissão oral. Repete-se: tudo são conjecturas, não há provas de que assim surgiu um ritual. Toda guilda tinha suas próprias regras, também, de transmissão oral. Eram listas de deveres e de direitos dos maçons, regras e regulamentos com os quais os trabalhadores foram governados. Algumas dessas regras foram escritas e chegaram aos nossos dias: as Old Charges ou Antigas Obrigações. Assim, o work (ritual) perpetuou-se, elaborado e desenvolvido não por tradição, pelo estudo em livros ou desenvolvido teoricamente, mas a partir do próprio trabalho diário na construção de catedrais e outros edifícios. Surgiram alegorias e lendas cujo objetivo era (e é) evidenciar, simbolicamente, a preparação para o desenvolvimento de virtudes, de valores e de bem viver. Aqui está a resposta: todo ritual maçônico é, apenas, um meio e, nunca um fim. Meio para quê? Meio para a preparação, para o desenvolvimento de virtudes, de valores e de bem viver. Aos poucos, a partir do século XVI, houve um declínio das atividades das guildas. Por quê? Pelo desenvolvimento científico e desenvolvimento da matemática, as construções tornaram-se viáveis tecnologicamente, baseadas em cálculos estruturais, planejamentos e elaboração de plantas e projetos. O pragmatismo dos maçons operativos das guildas tornou-se obsoleto e economicamente dispendioso face ao desenvolvimento tecnológico. Acrescenta-se o aparecimento de universidades formando arquitetos e construtores (Valsechi, 2014). Aos poucos, a maçonaria operativa transforma-se em especulativa. Na Escócia, ainda no século XVI, aparecem os primeiros maçons “aceitos”, isto é, maçons que não eram pedreiros ou construtores, mas filósofos, aristocratas, cientistas, oriundos das universidades que substituíram a construções de catedrais pela construção do seu ser interior, usando toda simbologia e filosofia expressa no work (ritual). A data aceita como marco dessa mudança foi 1717, em Londres. Já, nesta época, a maçonaria moderna, denominada de especulativa ou dos aceitos, já distanciada da influência da Igreja Católica; tinha ainda grande influência da Igreja Anglicana e de calvinistas escoceses. O ritual usado nessa época pela “Loja dos Modernos” era um ritual bastante simples e quase deísta. 1 Kenneth Martin Follet, Ken Follet, filósofo, jornalista e escritor galês, nasceu em 1949, em Cardiff, País de Gales. Formado em filosofia pela University College of London, tornou-se jornalista e escritor. Publicou 29 romances, todos num contexto da história medieval, moderna ou contemporânea. “Os Pilares da Terra” (The Pillars of the Earth) foi editado em 1989 e, em 2010, transformou-se em séries de TV. Follet é membro da Yr Academi Gymreig (Academia Galesa) e membro da Royal Society of Arts. Esse ritual, introduzido em França em torno de 1725, compôs o então chamado Rito Francês e posteriormente denominado Rito Moderno. A partir de 1751, com a fundação da “Loja dos Antigos”, foi usado um ritual de origem irlandesa, bastante teísta, de 3 graus, mais o Arco Real (que não é o 4º grau). Este ritual deu origem ao Rito de York usado especialmente pelos norte-americanos, chamado também de Rito Inglês Antigo. O Trabalho de Emulação tem uma extensão do terceiro grau, que não chega a ser um novo grau, chamado Arco Real. Não se trata de um grau superior, mas um grau adicional. E não mais faz parte do Ritual de Emulação, mas forma um corpo (agregação de maçons) próprio. Não confundir o Arco Real do sistema inglês com o Corpo de Graus Superiores do sistema americano (Rito de York), conhecido como Real Arco. A rivalidade entre “Antigos” e “Modernos” requereu novos regulamentos para o governo da Ordem. Por consenso, procurou-se uma nova forma de ritual. No ritual dos “Modernos”, foram retiradas em 1723, as orações, omitiram os dias santos e descristianizaram o ritual. Cortaram a leitura dos Antigos Deveres e retiraram as espadas nas iniciações. Essa rivalidade entre “Modernos” e “Antigos” perdurou até 1813, quando da unificação e formação da Grande Loja Unida da Inglaterra. Procurou-se, então, adotar um ritual que fosse uma fusão entre o ritual dos “Modernos” e o dos “Antigos”. Na unificação, decidiu-se pela perfeita unidade no “trabalho”. Foi formada uma “Loja de Reconciliação”, composta de um número igualitário de maçons “Antigos” e “Modernos”, com a incumbência de definir a forma do ritual a ser observada permanentemente. 3. Ritual de Emulação: Só em 5 de junho de 1816 (30 meses depois), a Loja de Reconciliação aprovou as Cerimônias do Trabalho (“work”) em sessão presidida pelo Grão Mestre da Grande Loja Unida da Inglaterra, o duque de Sussex2. A Loja de Reconciliação, havendo cumprido o propósito específico para a qual foi constituída, deixou de existir em 1816 e a divulgação e estudo do novo ritual recaiu nas Lojas de Instrução que nasceram neste ano. A mais importante dessas Lojas de Instrução foi a Loja Unida de Perseverança, fundada em 26 de janeiro de 1818. Essa loja contava com os maçons mais instruídos da época, dos quais, nove foram fundadores da Loja de Emulação e Aperfeiçoamento (Emulation Lodge of Improvement), em 1823. O objetivo dessa nova Loja era ensinar, de forma precisa, o ritual acordado pela Loja de Reconciliação. Tornou-se, então, a curadora oficial em todo mundo do Ritual de Emulação. Curadora é a instituição que cuida dos interesses e defende a pureza do Ritual de Emulação. Ao contrário de outros ritos que são admitidos pelo GOB, o Ritual de Emulação é monitorado, interpretado e explicitado, para todo mundo, exclusivamente, pela Emulation Lodge of Improvement. Dúvidas poderão ser sanadas no site http://emulationloi.org/ através da comunicação com o secretário da Loja: secretary@emulationloi.org. Daí, surgiu o termo Emulation (Emulação), ligado à Loja a “Emulation Lodge of Improvement” (Loja de Emulação e Aperfeiçoamento), verdadeira escola de maçonaria onde são dadas instruções por preceptores que ensinam o ritual aos Irmãos, a qual existe e funciona até hoje. O primeiro e mais importante preceptor da Loja de Emulação e Aperfeiçoamento foi Peter William Gilkes, célebre instrutor maçônico, cujo nome está inseparavelmente unido ao Trabalho de Emulação. Peter William Gilkes, um humilde verdureiro de Carnaby Market (Soho District), em Londres, nasceu em 1765, em local não sabido e faleceu em 1833, em Londres. Iniciou-se em 1786, na British Lodge, agora de nº 8. Foi membro da Loja de Perseverança e fundador da Loja de Emulação e Aperfeiçoamento, onde foi escolhido Líder do Comitê de Emulação, em 1825, posição que ocupou até sua morte em 1833. Foi sucedido por brilhantes Irmãos e até hoje existe um Líder do Comitê de Emulação. Gilkes está enterrado num grande mausoléu maçônico no corredor norte, de leste para oeste, da St. James Church, Picadilly, Londres, desde 1834. 2 O duque de Sussex, em 1816, foi o príncipe Augustus Frederick (nascido em 1773 e falecido em 1843), 6º filho do rei George III do Reino Unido e Grão Mestre da Grande Loja Unida da Inglaterra de 1813, até sua morte em 1843. O Grão Mestre da GLUI tem cargo vitalício e é o chefe do Estado Maçônico; o chefe do Governo Maçônico é o Pró-Grão Mestre, eleito a cada 4 anos.
(Fig. 1 – Peter William Gilkes). O princípio básico de Emulação é que o ritual não pode ser alterado em nenhum lugar do mundo, sem que a Grande Loja Unida da Inglaterra não sancione a alteração, após estudos da Loja de Emulação e Aperfeiçoamento. Na verdade, houve, apenas, duas alterações. A primeira, em 1964, 148 anos após a aprovação do Trabalho de Emulação, quando foi aprovado uma forma alternativa de penalidade, explicitando serem penalidades figurativas. Isso foi feito por proposta do bispo Herbert, Grão-Mestre Provincial de Norfolk. Em 1986, 170 anos após a aprovação do Trabalho de Emulação, as penalidades que envolvem juramentos de sangue (“blood oaths”) foram removidas. No Brasil, o Ritual de Emulação foi modificado. Primeiramente, no nome: traduziram, erroneamente, em 1912 “Craft Masonry” (Ofício Maçônico) por Rito de York. O Ritual de Emulação não é um Rito e nem de York. Esse erro perdura até hoje e é reconhecido pelo GOB (GOB, 2009 – o reconhecimento do erro está nas pags. 17 e 21). Há erros de tradução, também, no Ritual de Emulação em português, publicado pelo GOB. Há uma confusão entre os termos “templo” e “loja” que não têm o mesmo significado. Há, também, a abreviação por três pontinhos: V.’.M.’., em lugar de V.M.. Não existe três pontinhos na maçonaria britânica. O triponto é de origem francesa. Não existe, também, na maçonaria britânica, o tríplice e fraternal abraço. Em verdade, não existe, no Reino Unido, o Rito de York. O Rito de York é um rito de 13 graus sucessivos, que é também chamado de Rito Inglês Antigo, muito utilizado nos EUA. No Reino Unido, o sistema inglês é chamado de Craft Masonry (Arte Maçônica ou Ofício Maçônico). O Ritual de Emulação (ou Trabalho de Emulação – Emulation Ritual ou Emulation Work) faz parte deste sistema de Arte Maçônica. O Ritual de Emulação é oral e no Reino Unido não se usa manuais, exceto o P.M.I. (último ex-Venerável ou Past Master Imediato) que funciona como “ponto” (auxiliar que, de maneira oculta ou discreta, recorda aos participantes da sessão as suas falas, quando necessário). O P.M.I. pode corrigir até o Venerável Mestre em suas falas. Esse “ponto” pode ser substituído por aparelhos de gravação eletrônica de pequenas dimensões, usados por todos os participantes que devem usar falas de uma sessão. Em lojas inglesas, é costume não entregar rituais impressos aos Aprendizes e aos Companheiros. Isso contribui e estimula “emular” o ritual. Emular significa esforçar-se para a realização de um mesmo objetivo; imitar; seguir o exemplo; igualar; praticar apenas olhando. Ao se ler o ritual, está-se sujeitando contra a própria ideia, ou seja, não se está emulando. O Ritual de Emulação não teve influência de qualquer ocultismo, tais como alquimia, rosacrucismo, martinismo, cabalá, etc. Não há, no Ritual de Emulação, a bateria feita com palmas, mas apenas o bater dos malhetes do V.M., do 1º e 2º Vig.. A partir de 1871 foi impresso um ritual “The Perfect Ceremonies of Craft Masonry” (Cerimônias Exatas da Arte Maçônica), publicado pela Lewis Publishers3 de 3 Lewis Publishers é uma editora maçônica britânica, fundada em 1801, portanto, a mais antiga editora maçônica do mundo. Hoje, edita, oficialmente, os rituais para a Grande Loja Unida da Inglaterra e para os capítulos do Sagrado Arco Real. Londres. A publicação desse ritual teve severa oposição de oficiais superiores da Grande Loja Unida da Inglaterra. O ritual foi impresso, também, na Nigéria, em torno de 1920 e republicado em 1939, pela Lewis, com forte oposição da Grande Loja Unida da Inglaterra. Esse ritual nigeriano distinguiu-se por mostrar comentários sem restrições. Por isso, foi amplamente disseminado. O ritual “Cerimônias Exatas” foi traduzido para o português em 1920, pelo Ir. Joseph Thomas Wilson Sadler membro da “Lodge of Unity” de São Paulo. Ele usou corretamente a expressão “Cerimônias Exatas da Arte Maçônica” e não mencionou a expressão “Rito de York”. Em 1976, foi reimpresso o Ritual de 1920, e aparecendo a expressão “Rito de York”, inserido por algum inventor que, aliás, já vinha sendo usado há muito tempo, consagrando assim definitivamente no Brasil, um nome que não existe no sistema inglês. Sabe-se que na Inglaterra esse Trabalho não tem essa denominação. Como todos os rituais usados atualmente pelos brasileiros estão baseados nessa tradução, e como foi mantido, em 1976, o termo Rito de York, ainda que de forma incorreta, tornar-se-á muito difícil, após muitos anos, desfazer-se desse erro que já se tornou corriqueiro e de uso geral. Deve-se repetir que o Ritual de Emulação nem é de York e muito menos é um Rito. A Grande Loja da Inglaterra permitiu imprimir o Ritual de Emulação somente em 1969, com a chancela da Emulation Lodge of Improvement. O Ritual de Emulação não é de York, mas é de Londres e não é um rito, mas um ritual. Não é um rito estruturado, como o REAA, mas um ritual, pois é composto apenas das cerimônias de abertura e fechamento da Loja (incluindo o fechamento da loja no descanso), da iniciação, da passagem (elevação a Companheiro) e da elevação (exaltação a Mestre) e da instalação do Mestre da Loja. Todos os demais procedimentos não fazem parte do ritual: cortejos, meditação, leitura e aprovação de atas, ordem do dia, os três levantamentos, o Tronco de Beneficência, etc. Todos esses procedimentos não pertencentes ao Ritual de Emulação poderão ser feitos em loja fechada. O Trabalho de Emulação é o ritual mais antigo na maçonaria britânica e predominante (cerca de 85%). A Grande Loja Unida da Inglaterra, no entanto, reconhece outros tipos de Trabalhos (todos derivados do Ritual de Emulação), a saber: Taylor Working, Bristol Working, Lewis Working, West End Working, Stability Working, Universal Working, além de outros tipos de Trabalhos menos divulgados. Todos esses tipos de Trabalhos são muito parecidos com o Emulation Working. O mais diferenciado é o Bristol Working, no qual, o Venerável usa um tipo de chapéu chamado “cocked hats” muito usado na marinha inglesa. Nesse Trabalho as cerimônias também são um pouco diferentes. A Loja de Emulação e Aperfeiçoamento manteve por quase 200 anos um padrão uniforme do Ritual de Emulação, sem alterações. Há algumas observações que devem ser feitas: – Não se esquadra o piso mosaico da Loja, exceto na iniciação, na passagem e na elevação. (Esquadrar é um neologismo no sentido de fazer a esquadria (dispor em ângulo reto) nos três cantos do piso mosaico durante perambulação; é impreciso usar o termo enquadrar para o sentido explanado acima). – 0 ritual de banquete ritualístico, Festive Board Ritual, não é Ritual de Emulação, mas é um ritual britânico, diferente dos rituais de banquete do REAA, por exemplo, que é baseado nas lojas militares napoleônicas. O Festive Board Ritual é baseado na aristocracia britânica com influências hebraicas e celtas. – Os sinais e palavras sagradas dos três graus são próprios e características do Ritual de Emulação. – Os Cinco Pontos de Companheirismo do 3º grau é a característica do Ritual e é o sinal composto do grau. O termo correto é Cinco Pontos de Companheirismo, tradução de FPOF – Five Points of Fellowship. Embora, deve-se afirmar que há uma tradição nas línguas latinas de chamar Cinco Pontos de Confraternização. – Nenhum sinal, de qualquer grau, deve ser feito com o ritual (o manual); não se deve ter nada nas mãos, exceto os Diáconos e Diretor de Cerimônias com seus bastões. Isso inclui o sinal composto de 3º grau (os Cinco Pontos de Companheirismo) que não deve ser feito com o ritual na mão. – Em loja aberta, não pode haver discussões ou debates e, portanto, não podem ser tratados assuntos administrativos. Os assuntos administrativos devem ser tratados em reunião administrativa, fora do templo. 4. Algumas simbologias: No Ritual de Emulação, há vários procedimentos que, aos poucos, descobre-se seu significado e o porquê. Algumas questões: por que o uso do cortejo inicial e final (que não pertence ao Ritual de Emulação)? Por que não existe um Oriente, ou seja, o Leste, mais elevado como nos outros ritos? (O Rito de Schröder, alemão, também não tem Oriente (Leste) mais elevado). Por que o Ritual de Emulação é, ritualisticamente, mais simples se comparado, por exemplo, ao REAA? Por que se usa ternos escuros (dark suits) e não se usa balandrau? Por que há três levantamentos? Por que no encerramento da loja, o capelão (ou o PMI) promete, por três vezes, fidelidade e guardar nossos segredos em lugar seguro? Por que o sinal composto de 3º grau são os Cinco Pontos de Companheirismo, falado? Os maçons cumprem os Cinco Pontos de Companheirismo? Os maçons cumprem os juramentos dos 3 graus? Por que não se deve fazer sinal de nenhum grau com o ritual na mão? Por que o Ritual de Emulação, tradicionalmente, há quase 200 anos, é oral e não lido? Por quê? Por quê? Ao se procurar respostas estas questões, se instrui, se aprende; o ritual se revela (retira seus véus). Na verdade, a resposta a cada uma destas questões pode dar origem a um proveitoso trabalho. Os significados dos símbolos, na Maçonaria, têm uma limitada flexibilidade, chegando a ter interpretações quase pessoais. Exemplo: o esquadro: símbolo da retidão e que outros dizem símbolo da moral; outros, ainda, símbolo da virtude, ou da justiça, ou do dever, ou da probidade, etc. Há, portanto, certa flexibilidade, elasticidade, elegância de entendimento simbólico. Na verdade, o significado de um símbolo depende da pessoa e da ocasião, do tempo, do momento. É conveniente, sempre, o questionamento sobre o significado de cada símbolo. Um exemplo de interpretação simbólica do Ritual de Emulação: ao abrir a loja, o 1º Vigilante levanta sua coluna (coluna dórica, da força) e o 2º Vigilante abaixa sua coluna (coluna coríntia, da beleza). O V.M. permanece, sempre, com sua coluna levantada (coluna jônica, da sabedoria). Durante o chamado para o descanso e ao encerrar a sessão, o procedimento dos 1º e 2º Vigilantes é o oposto da abertura da loja. Por quê? O 1º Vigilante, ao levantar a coluna da força, indica que, ao abrir a loja, “os trabalhos tomam força e vigor”. O 2º Vigilante, ao levantar a coluna da beleza no fechamento da loja (ou quando do descanso), indica que os Irmãos apreciarão a beleza da fraternidade no ágape ou na apreciação de algum trabalho a ser debatido. É praxe, uma rotina antiga, após a fala de alguém, num dos três levantamentos: com a mão direita, bate-se na coxa direita, todos ao mesmo tempo, comandados pelo V.M. ou pelo Diretor de Cerimônias. Trata-se de um sinal de agradecimento britânico; não é um aplauso, como bater palmas. Esse costume tem origem, provavelmente, no Parlamento Britânico4. Mas, há quem diga que esse costume tem origem na maçonaria operativa ou maçonaria de ofício e foi, depois, introduzido no Parlamento Britânico. Esse sinal de agradecimento não faz parte do Ritual de Emulação, mas é costume em toda a maçonaria britânica. 5. Considerações finais: Os rituais são muito ricos e extremamente eficientes quando se questiona o porquê dos procedimentos. O Ritual de Emulação é, igualmente, rico e fértil em emular valores e virtudes. Há que se questionar o porquê de cada ação, de cada símbolo e de cada palavra. Muitas vezes, não é imediato e fácil descobrir as respostas. Há, também, aqueles que teorizam tentando responder questionamentos, baseados no subjetivismo pessoal; são os que 4 O Parlamento do Reino Unido foi a assembleia legislativa do Reino da Inglaterra, fundado em 1066 quando William da Normandia introduziu o sistema feudal e necessitou de um conselho de “inquilinos” (tenant ou holding, algo como inquilinos de terra arrendada) e eclesiásticos antes de promulgar leis. Em 15 de junho de 1215, os “conselheiros” garantiram a Magna Carta (Constituição) feita pelo rei João. Na época, o Parlamento era formado somente por Lords e eclesiásticos. A Lei Básica da União (Act of Union) de 1707 fundiu o Parlamento da Inglaterra com o Parlamento da Escócia, formando o Parlamento da Grã Bretanha. Em 1801, quando o Parlamento da Irlanda foi abolido e fundido, o Parlamento da Grã-Bretanha passou a chamar Parliament of the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland. Em 1999, reconstituiu-se o Parlamento da Escócia. praticam o “achismo”. Há que se estudar, ler, obter respostas confiáveis em boas fontes. Só assim, os rituais tornam-se eficientes para o principal propósito: aprimorar o ser interior, praticar virtudes, melhorar sua vida ou simbolicamente: construir seu templo interior. Por isso, existem maçons. Em seguida, adapta-se um texto de “Zohar, O Livro do Esplendor”. Zohar (זהַֹר ) em hebraico significa esplendor, luminosidade intensa. Zohar foi escrito, provavelmente, por Moisés de León5, possivelmente em 1260 (Scholem, 1963). O texto de Zohar trata da leitura da Torá. Zohar pode ser lido na internet: Manhar, 2005; Zohar. 2004. “Pessoas sem entendimento veem os textos dos rituais apenas como vestimenta, a roupa. Os mais argutos veem, também, o corpo. Mas os verdadeiros sábios, os que absorvem, mesmo, o ritual, penetram todo o texto do ritual até o âmago, até a alma, até o verdadeiro objetivo original.” Para terminar: como, depois deste texto, se vê o ritual? Uma roupa, um corpo ou seu verdadeiro âmago? Referencias Bibliográficas: – Barnes, M. “Peter William Gilkes, a Prominent Teacher of Emulation”. Quatuor Coronati Transactions, vol. 86, pp: 166-167, 1973. – Deflem, M. “Ritual, anti-structure, and religion: a discussion of Victor Turner’s processual symbolic analysis”. Journal for the Scientific Study of Religion, 30 (1): 1-25, 1991. – Follet, K. “Os Pilares da Terra”. Rio de Janeiro, Rocco, 1992. – Gaarder, J. & Hellern, V. & Notaker, H. “O Livro das Religiões”. S.Paulo: Cia. das Letras, 2005. – Genz, P.V. “A Maçonaria Inglesa no Brasil”. 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FONTE: FORMADORES DE OPINIÃO. Acesso em http://www.formadoresdeopiniao.com.br/portal/maconaria-rito-e-ritual-de-emulacao/

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