Este blog destina-se ao estudioso livre, que manifesta interesse na maçonaria como fonte de estudos acadêmicos
sábado, 29 de agosto de 2015
A prancha de Aprendiz (Blog A Partir Pedra).
Por Rui Bandeira.
Para o Aprendiz que se entrosou no grupo e que vem fazendo o seu trabalho, com assiduidade e diligência, chega sempre um momento em que um Mestre – por regra o 2.º Vigilante, mas pode ser qualquer Mestre -, no meio de uma descontraída conversa, a propósito ou aparentemente a despropósito, lança, como quem não quer a coisa, a pergunta: - Então, já escolheste o tema da tua Prancha?
Este é o primeiro sinal que é dado ao Aprendiz que os Mestres da Loja entendem que o seu trabalho está a ser frutífero e que se aproxima a hora de novo avanço. O tempo da integração e da adaptação decorreu e está próximo de terminar, o tempo de progredir está-se a aproximar. Não quer isto dizer que a progressão, o avanço esteja já aí ao virar da esquina. Não é incomum, pelo menos na Loja Mestre Affonso Domingues, que, entre o momento em que o Aprendiz é incentivado a começar a elaboração da sua prancha e aquele em que deixará de ser Aprendiz medeiem uns bons seis meses, ou mesmo mais. É que, entre o primeiro incentivo ao Aprendiz à elaboração por este de uma prancha e a conclusão por este da dita, vai seguramente decorrer algum tempo. E depois há que agendar a sua apresentação em Loja. E, decorrida esta, haverá que aguardar pela ocasião propícia para a Passagem do Aprendiz à fase seguinte do seu percurso maçónico. E já neste espaço deixei consignado (por várias vezes) que pressa e maçonaria não ligam bem...
A elaboração pelo Aprendiz de uma Prancha é essencial para possibilitar o seu avanço de grau. A Prancha do Aprendiz é como que o relatório do seu trabalho, o registo da sua mudança, a exposição da sua evolução, patenteados perante a Loja. Não é um exame – o Aprendiz não tem que provar a sua proficiência em Simbolismo, Aperfeiçoamento e Artes e Ofícios Correlativos... Aliás, tudo o que o Aprendiz tem de provar, tem de o fazer a si próprio, apenas e tão só, e a mais ninguém. Se ele quiser lograr alguém, só ele será enganado, mais ninguém...
A Prancha do Aprendiz é, antes do mais e para além de tudo o mais, apenas mais um trabalho que este deverá executar. Com a diferença que este se destina, não apenas ao interior de si próprio, mas também a ser apresentado, escrutinado, apreciado em Loja.
O essencial interesse da Prancha de Aprendiz é a sua feitura. Mais uma vez, o que interessa é o percurso, não a meta. Também aqui o essencial é o trabalho que o Aprendiz realiza e não propriamente o seu resultado final. Há Pranchas de Aprendiz belas e vulgares. Enciclopédicas e triviais. Extensas e breves. Profundas e superficiais. Enfeitadas e toscas. Literatas e simples. Imaginativas e insossas. Há de tudo. Não importa. O que importa é o investimento pessoal que o Aprendiz fez na sua elaboração e, com ele, o que aprendeu, o que sistematizou, a aresta que limou.
Apresentada que esteja a prancha, ela é sempre, na Loja Mestre Affonso Domingues, objecto de apreciação e comentário dos Mestres presentes. Normalmente, todos os Mestres, ou quase, se pronunciam. E todos os que o fazem, qualquer que seja o nível da prancha, do mais esplendoroso e credor de admiração, ao mais simples, nos seus comentários lobrigam algo de positivo, algo de bom, e algo de negativo, algo susceptível de melhoria. Pode o trabalho ser objecto dos mais entusiásticos encómios – mas não deixará de ver apontado um, insignificante que seja, aspecto em que se declara que podia ser ainda melhor. Pode o trabalho sofrer as mais ferozes críticas – mas não deixará de se realçar, por minúsculo que seja, o aspecto merecedor de uma referência elogiosa. Porque todo o trabalho dedicadamente feito merece encómios e nenhum trabalho humano é perfeito. Porque foi feito e apresentado por um dos nossos. E os nossos têm de nós sempre o elogio misturado com a censura, para que nunca sucumbam à tentação de subir às alturas que causaram a queda de Ícaro; e os nossos merecem de nós sempre a crítica lúcida, verdadeira e leal, mas sempre temperada com o incentivo do nosso reconhecimento do que de bom é feito e da sua capacidade de fazer melhor.
Normalmente, as três últimas intervenções são, respectivamente, do 2.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Aprendizes) – que termina a sua intervenção declarando que entende que o Aprendiz está pronto para avançar para o grau seguinte -, do 1.º Vigilante (o Mestre responsável pela Coluna dos Companheiros) – que termina a sua intervenção manifestando a sua disponibilidade para receber o Aprendiz que apresentou a Prancha na sua Coluna – e do Venerável Mestre – que sintetiza tudo o que foi dito, anunciando que oportunamente se procederá ao aumento de salário (isto é, à passagem de grau) do autor da prancha.
Assim se declara o reconhecimento da Loja da evolução que o Aprendiz teve desde que foi iniciado. Assim funciona e trabalha a Loja Mestre Affonso Domingues. E não nos temos dado mal com o sistema...
Análise de Rui Bandeira sobre dúvidas recorrentes:
"O tema da prancha é livremente escolhido pelo seu autor. Se este o pretender, podem ser-lhe dadas sugestões, que ele aproveitará ou não.
Deve a prancha de Aprendiz corresponder à simbologia própria desse grau. Não faz sentido que, por exemplo, o Aprendiz apresente uma prancha cometando símbolos próprios do grau de Mestre. Não tanto por ele, mas pelos demais Aprendizes. Já várias vezes expressei que, em Maçonaria, o tempo e a sequência de apreensão de conhecimentos é importante.
Não se mandam refazer pranchas. Mas as pranchas dos Aprendizes devem ser revistas pelo 2.º Vigilante, que poderá e deverá aconselhar modificações, no sentido de as melhorar. Mas o Aprendiz é livre de aceitar ou não os conselhos dados. Em caso algum se faz censura.
Mesmo na hipótese que acima exemplifiquei, o máximo que se poderia fazer era informar que tal prancha não era considerada adequada para ser apresentada no grau de Aprendiz, mas apenas no grau de Mestre. O seu autor deveria reservá-la para o fazer nesse grau, quando o pudesse fazer. Claro que isso implica que ascenda primeiro ao grau de Mestre e, para fazer esse percurso, terá de apresentar uma (outra) prancha adquada ao grau de Aprendiz...
Só nestas circunstâncias existe uma situação parecida com o "mandar fazer de novo". Não tem nada a ver com humildade ou falta dela - apenas com a adequação do trabalho apresentado ao nível de evolução dos destinatários do mesmo".
FONTE: Blog A Partir Pedra. Acesso em http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2008/01/prancha-de-aprendiz.html
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
Graus da Maçonaria.
Graus simbólicos:
Os graus simbólicos são atribuídos universalmente em todas Obediências Maçônicas por Lojas Simbólicas, também denominadas de Lojas de São João ou Lojas Azuis, estes graus são sempre atribuídos nestas Respeitáveis Lojas independentemente da Obediência Maçônica a que respeite e o seu ritual, os ensinamentos simbólicos e iniciáticos transmitidos são muito semelhantes. Assim a Maçonaria embora praticando vários ritos, tem uma principal característica que é o reconhecimento, em todos eles, dos três primeiros graus, havendo diferenças após o grau de Mestre Maçom.
1º GRAU: APRENDIZ MAÇOM - O Aprendiz deve, acima de tudo, saber aprender. É o primeiro contato com o Simbolismo Maçônico. Aprende as funções de cada um no templo e sempre busca o desenvolvimento das virtudes e a eliminação dos vícios. Muitos maçons antigos afirmam que este é o mais importante de todos os graus.
2º GRAU: COMPANHEIRO MAÇOM - A fase de Companheiro propicia ao maçom um excepcional conhecimento de símbolos, além de avanços ritualísticos e desenvolvimento do caráter.
3º GRAU: MESTRE MAÇOM - É o chamado grau da plenitude maçônica. No âmbito do Simbolismo (Lojas Simbólicas) é o grau mais elevado que permite ocupar quaisquer cargos. O Mestre possui conhecimentos elevados da história e objetivos maçônicos.
Graus Filosóficos e Ordens de Sabedoria:
Graus Filosóficos do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Os graus a seguir referem-se exclusivamente ao Rito Escocês Antigo e Aceito:
4) Mestre Secreto
5) Mestre Perfeito
6) Secretário Íntimo ou Mestre por Curiosidade
7) Preboste e Juiz
8) Intendente dos Edifícios
9) Cavaleiro Eleito dos Nove
10) Cavaleiro Eleito dos Quinze
11) Sublime Cavaleiro dos Doze
12) Grão-mestre Arquiteto
13) Cavaleiro do Real Arco
14) Prefeito e Sublime Maçom
15) Cavaleiro Do Oriente
16) Príncipe de Jerusalém (Grande Conselheiro)
17) Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
18) Cavaleiro Rosa-Cruz ou Cavaleiro Águia Branca
19) Grande Pontífice ou Sublime Escocês
20) Soberano Príncipe da Maçonaria ou Mestre "ad vitam"
21) Cavaleiro Prussiano ou Noaquita
22) Cavaleiro Real Machado ou Príncipe do Líbano
23) Chefe do Tabernáculo
24) Príncipe do Tabernáculo
25) Cavaleiro da Serpente De Bronze
26) Príncipe da Mercê ou Escocês Trinitário
27) Grande Comendador do Templo
28) Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
29) Grande Cavaleiro Escocês de Santo André da Escócia ou Patriarca das Cruzadas
30) Grande Inquisitor, Cavaleiro Kadosh ou Cavaleiro da Águia Branca e Negra
31) Grande Juiz Comendador ou Inspetor Inquisidor Comendador
32) Sublime Cavaleiro do Real Segredo ou Soberano Príncipe da Maçonaria
33) Soberano Grande Inspector-Geral.
Ordens de Sabedoria do Rito Francês ou Moderno:
Assim o conjunto dos graus filosóficos deste rito, compreende cinco Ordens de Sabedoria,2 a saber:
1ª Ordem: Eleito Secreto - 4º Grau;
2ª Ordem: Eleito Escocês - 5º Grau;
3ª Ordem: Cavaleiro da Espada ou Cavaleiro do Oriente - 6º;
4ª Ordem: Cavaleiro Rosa-Cruz - 7º Grau;
5ª Ordem: Cavaleiro Kadosh Filosófico ou Cavaleiro da Águia Branca e Preta - 8º Grau;
5ª Ordem: Cavaleiro da Sapiência ou Grande Inspetor - 9º Grau.
As equivalências entre o Rito Francês e os outros Ritos:
Com o Rito Escocês Antigo Aceito:
1.ª Ordem: 4.° grau
2.ª Ordem: 9.º ou mais (Mestre Eleito dos Nove);
3.ª Ordem: 14.º e mais (Grande Escocês da Abóbada Sagrada);
4.ª Ordem: 18.º e mais (Cavaleiro Rosa-Cruz);
5.ª Ordem: 30.º e mais (Cavaleiro Kaddosch);
5.ª Ordem: 33.º (Grande Inspector Geral);
Com o Rito Escocês Retificado:
1.ª à 4.ª Ordem: Mestre Escocês de Santo André e mais;
5.ª Ordem: Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (CBCS).
Graus Filosóficos do Rito Brasileiro:
4) Mestre da Discrição
5) Mestre da Lealdade
6) Mestre da Franqueza
7) Mestre da Verdade
8) Mestre da Coragem
9) Mestre da Justiça
10) Mestre da Tolerância
11) Mestre da Prudência
12) Mestre da Temperança
13) Mestre da Probidade
14) Mestre da Perseverança
15) Cavaleiro da Liberdade
16) Cavaleiro da Igualdade
17) Cavaleiro da Fraternidade
18) Cavaleiro Rosa-Cruz ou da Perfeição
19) Missionário da Agricultura e da Pecuária
20) Missionário da Indústria e Comércio
21) Missionário do Trabalho
22) Missionário da Economia
23) Missionário da Educação
24) Missionário da Organização Social
25) Missionário da Justiça Social
26) Missionário da Paz
27) Missionário da Arte
28) Missionário da Ciência
29) Missionário da Religião
30) Missionário da Filosofia. Kadosh Filosófico
31) Guardião do Bem Público
32) Guardião do Civismo
33) Servidor da Ordem da Pátria e da Humanidade
34) Mestre Ezio.
Referências:
Ir para cima ↑ CAMINO, Rizzardo da. Rito Escocês Antigo e Aceito Loja de Perfeição (Graus 1.º ao 33.º), Madras Editora Ltda., 1999 (2.ª Ed.), ISBN 85-85505-65-6.
Website oficial do Grande Oriente Lusitano.
Bibliografia:
CAMINO, Rizzardo da. Rito Escocês Antigo e Aceito Loja de Perfeição (Graus 1.º ao 33.º), Madras Editora Ltda, 1999 (2.ª Ed.), ISBN 85-85505-65-6
ARNAUT, António. Introdução à Maçonaria, 2000, Coimbra Editora, ISBN 9789723214161.
Fonte: wikipedia. Acesso em https://pt.wikipedia.org/wiki/Graus_ma%C3%A7%C3%B4nicos
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
A PRANCHA DE TRAÇAR
A PRANCHA DE TRAÇAR:
A Prancha de Traçar é um retângulo sobre o qual são indicados os esquemas que constituem a chave do alfabeto maçônico.
A Maçonaria em seu simbolismo chama o papel sobre o qual se escreve de “Prancha de Traçar” e substitui o verbo escrever pela expressão “traçar uma prancha”.
A “Prancha de Traçar” está ligada ao grau de Mestre, como a Pedra cúbica ao de Companheiro e a Pedra Bruta ao de Aprendiz.
É sobre a “Prancha de Traçar” que o Mestre estabelece seus planos; mas o Aprendiz e o Companheiro não devem ignorar seu uso e devem exercitar-se – desastradamente talvez – a esboçar aí suas idéias. Esse é o motivo pelo qual esse símbolo já figura no “Quadro de Aprendiz”.
O esquema alfabético que figura na “Prancha de Traçar” lembra ao Maçom que ele sempre deve traduzir seu pensamento de uma forma “maçônica”, trabalhando com “retidão”. Todas as letras têm a forma do Esquadro, que se relaciona com a matéria; não se vê aí o Círculo, símbolo do Espírito, pois o Espírito é invisível. Dessa forma, o Maçom se vê convidado a se libertar da letra para abordar o espírito.
Notar-se-á que a “Cruz”, que dá o esquema das dezoito primeiras letras, e o “X”, que dá as quatro últimas, forma precisamente o desenvolvimento da “Pedra Cúbica Pontiaguda”; essa “Pedra” é assim “colocada na horizontal sobre a “Prancha de Traçar”; aliás, sobre essa “Prancha” não se poderia traçar outra coisa a não ser “planos”.
(Jules Boucher).
Fonte: Arte Real Trabalhos Maçônicos. Acesso em http://focoartereal.blogspot.com.br/2012/01/prancha-de-tracar.html
sábado, 22 de agosto de 2015
INSTRUÇÃO E APRENDIZAGEM MAÇONICA.
Queridos Irmãos Aprendizes.
O trabalho do Maçon tem três dimensões fundamentais.
A primeira dimensão consiste na construção do Templo Interior. Aperfeiçoamento constante de cada um de nós, aproximando-nos do G.·.A.·.D.·.U.·., elevando-nos espiritualmente, combatendo e vencendo as nossas paixões, que nos agarram ao mundo material e iludem, ultrapassando desejos e vontades que são produto do egoísmo próprio de qualquer alma em estado bruto. É a este trabalho, que nós chamamos simbolicamente desbastar a pedra bruta, expressão herdada da maçonaria operativa e que tem sido transportada pela maçonaria especulativa através dos séculos.
No Grau de Aprendiz deve-se reflectir sobre o Vício e a Virtude, interiorizando tudo o que se aprendeu sobre a Verdade e a prática da Virtude.
Sem Virtude não se pode chegar à Verdade.
Só a pedra cúbica poderá ser utilizada na construção do templo.
Só o Maçon que percorreu este caminho pode ser útil ao seu semelhante, contribuindo para a construção de um mundo melhor. Esta é uma tarefa sempre inacabada, que nos deve manter activos desde a iniciação até à passagem ao Oriente Eterno.
Devemos ser sempre, eternos aprendizes.
A Maçonaria exige dos seus membros, entre outras condições, boa reputação moral. Exige tolerância para com toda a forma de manifestação de consciência, de religião ou de filosofia, cujos objectivos sejam os de conquistar a verdade, a moral, a paz e o bem-estar social.
A doutrina maçónica orienta os seus membros a dedicarem-se à felicidade dos seus semelhantes, não somente porque a razão e a moral lhes impõem tal obrigação, mas também porque esse sentimento de solidariedade nos faz irmãos.
A segunda dimensão do trabalho maçónico consiste na prática do ritual; construção do Templo em que nos encontramos.
Dinâmica e simbolismo que nos permitem abrir a mente para a realidade do mundo superior, beneficiando das energias positivas de todos os Irmãos e vencendo todo o tipo de pensamentos negativos.
O ritual que nós praticamos, bem como a decoração do nosso Templo, transmitem uma fortíssima mensagem simbólica que permite atingir o conhecimento àquele que pode e quer ver. Para isso, é absolutamente necessário que todo o tipo de preconceitos, juízos de valor ou dogmas veiculados pelos agentes do mundo profano, tenham sido removidos. A única forma de utilizar correctamente o método maçónico de aprendizagem é estar totalmente aberto a procurar a luz, fonte de todo o conhecimento, sem correntes que nos prendam à ignorância, ao fanatismo ou à ambição material. A busca do conhecimento é um caminho individual, de introspecção, análise e vivência, que ninguém pode percorrer por outrem, transmitindo-lhe um produto acabado.
No entanto, a prática ritualista promove e potencia o desenvolvimento espiritual do Maçon. É um trabalho conjunto com enorme projecção individual.
A evolução proporcionada pelas duas primeiras dimensões do nosso trabalho, realizado no mundo sagrado, não deve levar ao fecho do Maçon sobre si próprio, mas deve ser transportada para o exterior, participando na construção do Templo Mundo, contribuindo decisivamente para a transformação do mundo profano, através da valorização da cidadania e do aperfeiçoamento moral e ético da sociedade.
Esta terceira dimensão do trabalho maçónico, tem no culto da tolerância um referencial fundador.
Assim, os maçons são, naturalmente, opositores firmes de todos os sistemas que desrespeitem a liberdade política, religiosa ou filosófica, levando-nos esta condição a encarar de frente a possibilidade de um dia ter-mos de sacrificar a vida, em defesa dos nossos valores.
As fogueiras da Inquisição, o degredo, os campos de concentração nazis e não só, pelotões de fuzilamento ou mesmo o enforcamento, são lembranças do passado que temos de manter bem vivas, para que não se repitam na História da Humanidade. Considerar como um dado adquirido, tantos e tantos progressos que a espécie humana realizou, por intervenção de Irmãos nossos, poderá revelar-se um erro que nos custará bem caro.
Tenham sempre presente, que nós constituímos uma ameaça permanente a qualquer força totalitária, pelos princípios que nos orientam e defendemos, razão pela qual somos um alvo privilegiado de todos os ditadores.
Nenhum regime intolerante, político ou religioso, pode conviver pacificamente com uma Maçonaria forte.
Assim, a defesa da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, da tolerância religiosa, da democracia e do respeito pelos direitos humanos fundamentais, deve ser preocupação diária, no nosso trabalho sobre o mundo profano.
O vosso trabalho, o nosso trabalho, exige a conjugação destas três dimensões de forma harmoniosa para que seja plenamente conseguido.
Que o G.·.A.·.D.·.U.·.nos ilumine e nos guie nesta missão.
Enviado ao site MAÇONARIA EM PORTUGAL por 'Cagliostro' em Maio de 2008.
Fonte: MAÇONARIA EM PORTUGAL. Acesso em http://www.maconariaportugal.com/pranchas/prancha-1
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
XXII ENCONTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS MAÇÔNICAS
Sobre:
Nosso XXII ENCONTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS MAÇÔNICAS será realizado nos dias 16 e 17 de outubro, no Oriente de Maringá. O Encontro será realizado pelo Departamento de Membros Correspondentes da Loja Maçônica Fraternidade Brazileira de Estudos e Pesquisas, Juiz de Fora-MG, apoiado pelas lojas maçônicas de Maringá e região.
Os trabalhos para o XXIII ENCONTRO enfocarão o tema “VIVIFICAÇÃO DA CULTURA MAÇÔNICA NO MEIO POLÍTICO E SOCIAL”.
Os trabalhos a serem apresentados no Encontro, serão publicados. Portanto, eles deverão ser enviados por e-mail, ou em CD, com as seguintes especificações: digitação em Word, papel tamanho A4, fonte Arial, tamanho 10, com títulos no mesmo tamanho, negrito, e os subtítulos também em fonte 10, porém em itálico. A apresentação dos trabalhos deve ser preferencialmente com uso de recursos de multimídi, e não deve ultrapassar o tempo de 15 (quinze) minutos. (O trabalho deverá ser enviado até o dia 01/10/2015).
Na sexta-feira, dia 16, teremos a tradicional reunião do Clube do Ganso e da Grelha onde será debatido o tema “ADMISSÃO:NÚMERO OU PREDICADO”.
COORDENAÇÃO DO ENCONTRO:
Miguel Simão Neto:
Membro da Loja Maçônica Fraternidade Brazileira
de Estudos e Pesquisas (LMFBEP).
miguel.simao.neto@uol.com.br
Tel.: (32) 8889-6197.
Marco Aurélio Moreira Vieira:
VM da Loja Maçônica Fraternidade Brazileira de
Estudos e Pesquisas (LMFBEP).
cardioma@bol.com.br
Tel.: (32) 9987-4771.
Vladimir Pires Martins:
Delegado do Grão-Mestrado do Grande Oriente do
Paraná para a Delegacia de Maringá-PR.
condevladi@gmail.com
Tel.: (44) 9991-8080.
Informações em https://culturamaconica.wordpress.com/sobre/
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS DA INSTRUÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA: A Maçonaria nos Livros Didáticos (IDENTITY REPRESENTATIONS OF THE BRAZILIAN SCHOOLING: Freemasonry in Schoolbooks).
Por
Fernando Magalhães ¹.
Resumo:
No momento em que nas escolas públicas o Programa Nacional do Livro Didático, PNLD 2012, ofereceu aos
professores a escolha do livro a ser trabalhado no ensino médio, elaboramos a leitura de 12 obras oferecidas
para esta seleção na disciplina de História. Analisamos a inserção do tema “Maçonaria” nestas obras, valendo
-nos dos recursos teóricos de Barthes (1973), Veyne (1976), Foucault (1996) e Revel (2002), sobre prazer,
constantes, sociedade de discurso e tempo social. O tema na História do Brasil é parcamente abordado nas
Conjurações Baiana e Mineira, na Independência e na “questão religiosa”. Na História Geral, nada foi encontrado.
Concluímos que a atuação da maçonaria enquanto lócus de sociabilidade e transmissão de ideias deve
ser objeto de maiores estudos históricos.
Palavras-chaves: instrução escolar; Maçonaria; livros didáticos.
Abstract:
When National Schoolbook Program 2012 - PNLD offered teachers the choice of book to be worked in
high school, We elaborated the reading of 12 schoolbooks offered for this selection in the discipline of
History. We analyze the inclusion of the topic "Freemasonry" in these schoolbooks, using the theoretical
resources of Barthes (1973), Veyne (1976), Foucault (1996) and Revel (2002), about pleasure, constant,
time of speech and social society. The theme in the history of Brazil is poorly addressed in Bahia and Minas
Gerais Conjurations, Independence and the "religious issue." In general history, nothing was found.
We conclude that the role of Freemasonry while locus of sociability and transmission of ideas should be
subject to higher historical studies.
Keywords Schooling, Freemasonry, Schoolbooks.
Introdução:
No século XVIII, com a ascensão da burguesia
e a difusão das ideias iluministas, a Maçonaria
desenvolveu-se e adquiriu prestígio na Europa.
Aliada aos movimentos liberais, marcou
presença efetiva nos grandes acontecimentos
políticos. As revoluções Gloriosa, Americana e
Francesa possuem fortes traços ideológicos e
ampla participação de maçons entre suas lideranças
(HOBSBAWN, 2012). Na América Latina,
teve papel decisivo nas lutas da independência e,
no século XIX, nas lutas dos liberais contra os
conservadores clericais, sobretudo no México,
Colômbia e Chile. Na Itália, maçons participaram
do movimento de unificação nacional
(Risorgimento) (CARVALHO, 2010). Na Suíça, a
Grande Loja Alpina defende desde 1847 os cantões
protestantes contra a oposição dos cantões
católicos (CASTELLANI, 1991). Na Bélgica e na
Espanha do século XIX, maçons combateram a
influência da Igreja. Foi na França, porém, que a
Maçonaria conquistou grande força política e de
lá se irradiou para os países latinos (LEPAGE,
1993). Seu período áureo começou depois de
1870, na III República. Infiltrada em todos os partidos
políticos de centro, esquerda e direita, a
Maçonaria francesa dedicou-se a persistentes lutas
contra a Igreja. Conseguiram a abolição do
ensino religioso nas escolas, o divórcio, a expulsão
das ordens e congregações (1902) e a separação
de estado e igreja (1905). Só após a 1ª
Guerra Mundial a influência da Maçonaria francesa
começou a declinar (COSTA, 2002). Em Portugal,
as Lojas Maçônicas difundiram o pensamento
liberal, propagaram os princípios da revolução
francesa e, como a Maçonaria francesa, combateram
as ordens religiosas e o clero.
Há evidências documentadas da presença
de maçons no Brasil desde o final do século
XVIII.2 Aqui o movimento assumiu as mesmas
posições libertadoras que manifestara nas demais
colônias americanas. A ideologia da inconfidência
mineira coincidiu, de modo geral, com a
da Maçonaria da época. Quando se iniciou o ciclo
das conspirações nordestinas, a rede de sociedades
secretas formou a base das comunica-
ções entre os núcleos de intelectuais influenciados
pelas novas ideias europeias
(ALBUQUERQUE, 1959).
Nas lutas pela independência e abolição
da escravatura, a Maçonaria passou a ser o centro
mais ativo do trabalho de propaganda emancipadora.
Sua proposta libertadora continuou até
a República. Eram maçons ativos José Bonifácio,
Gonçalves Lêdo, Caxias, os intelectuais abolicionistas,
Benjamin Constant, Rui Barbosa, Deodoro
da Fonseca e o seu ministério, além de todos os
presidentes da República Velha, dentre outros
(CASTELLANI & CARVALHO, 2009).
O Grande Oriente do Brasil, organização
maçônica mais antiga em funcionamento no território
nacional, foi regida por mais de vinte
constituições, a última das quais aprovada em 24
de junho de 1990. Há, contudo, uma profunda
distinção entre as Lojas que seguem o Rito Escocês
Antigo e Aceito, de 33 graus, que enfatiza a
existência de um Ser Supremo - o Grande Arquiteto
do Universo, com o primado do espírito sobre
a matéria, e o Rito Francês ou Moderno, de
sete graus; assumidamente laico e materialista.
Além desses, há no Grande Oriente do Brasil os
Ritos de Emulação, Schroeder, Adoniramita, Brasileiro
e Escocês Retificado. Assim sendo, não podemos
falar em “Maçonaria”, e sim, em
“Maçonarias” no Brasil.
Desde a seminal obra de Maurice Agulhon,
Pénitents et Francs-Maçons de l´Ancienne
Provence, (Fayard, Paris, 1984), estabeleceu-se no
campo historiográfico de pesquisa acadêmica
um conjunto de proposições que se dedicam a
reconstruir a pertinência de uma história política
como nível de análise; estudando grupos sociais,
como neste caso específico, a Maçonaria, através
de suas formas de sociabilidade e seu potencial
MAGALHÃES, F. REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS DA INSTRUÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA...
² Recomendamos, dentre muitas outras obras referentes à gênese da Maçonaria no Brasil, pela sua pertinência e aprofundamento
na pesquisa documental relativa ao tema: CASTELLANI, José; CARVALHO, William A. História do Grande
Oriente do Brasil. A maçonaria na história do Brasil. São Paulo: Madras, 2009.
C&M | Brasília, Vol. 1, n.2, p. 103-115, jul/dez, 2013.
105
para a produção de novas estruturas sociais. Como
nos aponta Jacques Revel, certas noções e
práticas que, antes, eram aceitas como evidentes,
são, na contemporaneidade, objeto de um novo
exame, “que se interroga tanto sobre suas condi-
ções de possibilidade como sobre os sentidos
com que estão investidos: é o caso da história
global e da história nacional (...) reflexionadas
sobre a construção e a natureza das identidades
sociais, tanto de grupos quanto de indivíduos,
sobre a interpretação de suas trajetórias e estratégias”
(REVEL, op.cit. p. 147).
Análise de Conteúdo
A seguir, apresentamos uma análise comparativa
das obras didáticas pesquisadas. Como
se trata de material extenso, visando a não tornar
enfadonha a abordagem a doze obras em sequência,
que por vezes se repetem, buscou-se
agrupá-las em blocos comparados, de acordo
com as suas semelhanças e diferenças de abordagem
ao tema “Maçonaria”; aqui compreendida
como a constante deste nosso inventário de diferenças
(VEYNE, 1976).
Na obra de Santiago (2010), encontramos
a seguinte referência à maçonaria, como na maioria
das demais obras pesquisadas, abordada no
episódio da História do Brasil conhecido como
questão religiosa.
Em 1864, o Papa Pio IX promulgou
uma bula na qual reafirmava
a supremacia da Igreja
em todos os âmbitos da
sociedade e responsabilizava
a maçonaria por práticas que
enfraqueciam a fé católica. O
objetivo era eliminar o poder
que a instituição possuía dentro
da Igreja em todo o mundo.
Nesse sentido, a situação
no Brasil era peculiar: muitos
clérigos e o próprio imperador
eram maçons (Obs.: Equí-
voco do autor. D.Pedro II nunca
foi maçom. Seu pai, Pedro
I, sim). A posição papal acabou
gerando uma série de
incidentes, sobretudo com o
bispo de Olinda, D. Vital Maria
Gonçalves de Oliveira. Em
1872, ele proibiu a participa-
ção de clérigos na maçonaria,
ameaçando-os de expulsão da
hierarquia da Igreja.
(SANTIAGO, 2010, p. 179).
O trecho é seguido de um destaque, intitulado
“Pare e pense”, onde o autor define a Ma-
çonaria:
Ninguém sabe ao certo quando
teve início a Maçonaria.
Alguns especialistas apostam
que suas origens estão na Idade
Média, entre membros das
corporações de ofício. O certo
é que no século XVIII ela funcionava
regularmente, chegando
ao Brasil algumas dé-
cadas depois. Aqui no país
seus membros (entre eles ministros,
regentes, magistrados,
intelectuais e mesmo um imperador)
desempenharam papel
político importante.
1.Faça uma pesquisa para saber:
a). O que é a Maçonaria;
b). A atuação de seus membros
durante o século XIX no
Brasil;
c). Os principais acontecimentos
em que a instituição esteve
envolvida naquele período.
2. Faça um texto com o
título: “A Maçonaria no Brasil”.
Neste autor, apesar de verificarmos
o exíguo espaço dado a análise da participação
maçônica nos eventos históricos, observamos
uma tentativa de reflexão e aprofundamento, no
sentido da elaboração de um questionário de
apoio, onde o estudante é instigado a buscar
maiores dados a respeito da Maçonaria. De todos
MAGALHÃES, F. REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS DA INSTRUÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA...
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os livros didáticos observados, este é o único que
faz uso de tal recurso e, por isso, o apresentamos
destacado dos demais que seguem abaixo.
Na sequência, analisamos as obras de Moraes
(2010), Vicentino (2010), Campos (2010) e
Cotrim (2010). Em todas, a temática maçônica é,
também, abordada no tocante ao evento histórico
conhecido como “questão religiosa”. Podemos
observar que os trechos em muito se assemelham
entre si, no aspecto da construção e elaboração
dos eventos. No entanto, em certas
construções, podemos observar, como abaixo
assinalamos, além de erros básicos de pesquisa
historiográfica, como o que afirma ter sido D. Pedro
II um maçom, uma maior ou menor tendência
a relativizar os prejuízos políticos da Igreja,
como instituição, no desenrolar dos eventos em
pauta. As abordagens pouco se prendem às aná-
lises das estruturas políticas internacionais que
ali se apresentam, atendo-se, na maioria dos casos,
a tratar unicamente das consequências imediatas
do conflito no cenário nacional. No geral,
apontam o governo do Império como o que sai
mais prejudicado ao final do desenrolar dos
acontecimentos, ao, de certa forma, como induz
os textos, perder o apoio da instituição eclesiástica.
É curioso que, em nenhum dos trechos, parece
haver qualquer crítica no sentido de assinalar
a ingerência de uma potência estrangeira, no caso
o Vaticano, nos assuntos internos do Brasil.
O conflito mais decisivo, denominado
Questão Religiosa,
ocorreu entre 1872 e 1875, e
envolveu o bispo de Olinda,
dom Vital de Oliveira, e o bispo
do Pará, dom Antônio de
Macedo Costa. Os religiosos
posicionaram-se contra a ma-
çonaria, proibindo suas manifestações
e o ingresso de seus
membros nas igrejas católicas.
A monarquia não aceitou a
atitude rebelde e processou
os bispos, que eram funcioná-
rios do Estado, condenandoos
à prisão. Entre 1874 e 1875,
os bispos foram soltos e anistiados,
mas o fato gerou um
duplo problema para o governo,
o que colaborou para isolá
-lo um pouco mais, pois aumentou
a impopularidade do
Império e, principalmente, impulsionou
o desejo de separa-
ção entre o Estado e a Igreja.
(MORAES, 2010, p. 190).
Observando o trecho acima, perguntamonos
como o aluno vai compreender a inserção da
misteriosa entidade “Maçonaria”, sem mais nem
menos adentrando as linhas da obra.
Outrossim, o texto peca pela dubiedade
ao seu final, parecendo dar a entender que, à
Igreja, era interessante separar-se do Estado,
desconsiderando assim uma das maiores bandeiras
da maçonaria no século XIX e a razão maior
de sua luta naquele momento: a laicidade do Estado.
A bula papal que impedia
membros da maçonaria de
pertencer aos quadros da
Igreja foi rejeitada pelo imperador
– D. Pedro II, como o
pai, era maçom – que acumulara
o direito de ratificar ou
não o cumprimento das ordens
do papa no país. A maior
parte dos religiosos permaneceu
fiel ao imperador, porém
os bispos de Olinda e de Belém
preferiram acatar o papa
e expulsaram de suas dioceses
párocos ligados à maçonaria.
O imperador decidiu punir os
bispos rebeldes, processandoos
e condenando-os à prisão
com trabalhos forçados.
(VICENTINO, 2010, p.308.)
Mais uma vez, na única referência em toda
a obra à Maçonaria (mais de novecentas páginas
distribuídas em três volumes), identificamos a
repetição do mesmo erro. Farta documentação
histórica atesta que D. Pedro II preferiu não iniciar-se
na maçonaria, ao contrário do pai. EntreMAGALHÃES,
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tanto, questionamos: Se o autor; não sabemos a
partir de quais fontes, acreditava que o próprio
imperador fosse um maçom, como deixar de
buscar um aprofundamento no entendimento do
significado deste fato? Tal dado não teria maior
relevância histórica a merecer mais do que um
parágrafo de texto?
Em Campos (2010), a menção à chamada
Questão religiosa é ainda mais superficial. Há
menção à instituição do padroado, aqui colocado,
na visão do autor, como o principal motivo
da questão, a partir da recusa de Pedro II em
aceitar as regras ditadas pela bula papal de 1864.
Os acontecimentos restantes, onde os maçons
são mencionados em apenas uma linha, são, ao
que parece, meras consequências secundárias
deste aspecto principal.
Com a Independência, o padroado
manteve-se como
atribuição dos monarcas brasileiros.
No entanto, em 1864,
o papa Pio IX condenou em
uma encíclica o que considerava
os 80 erros que o mundo
praticava contra a Igreja. Entre
eles, o poder dos Estados sobre
os documentos papais, a
subordinação do clero à administração
civil, a separação
entre Igreja e Estado, e a participação
de membros da
Igreja em sociedades secretas,
especialmente a maçonaria.
No Brasil, D.Pedro II negou-se
a aprovar a encíclica, o que,
pelas regras do padroado,
tornava-a sem validade. Os
conflitos não tardaram a surgir.
Alguns membros do clero,
como o bispo de Olinda, resolveram
seguir as recomendações
papais e expulsaram
das confrarias religiosas os
representantes maçons. Um
recurso à Coroa tornou nula a
expulsão ordenada pelo bispo,
que acabou preso em
1874. (CAMPOS, 2010, p. 226).
Mais uma vez, a menção à Maçonaria é
superficial e não há interesse em explicar ao leitor
a sua repentina inserção no contexto da obra.
Em Cotrim (2010), encontramos a mesma
esquematização de ideias apresentada pelos autores
anteriores. Há que se destacar, no entanto,
neste autor, uma preocupação maior de inserir a
temática da maçonaria no contexto da obra, a
partir da apresentação de uma definição da instituição
em um glossário definidor do termo.
Desde o período colonial, a
Igreja Católica era uma instituição
submetida ao Estado,
pelo regime do Padroado. Isso
significava, entre outras
coisas, que nenhuma ordem
do papa poderia vigorar sem
antes ter sido aprovada pelo
imperador. Em 1872, no entanto,
D. Vidal e D. Macedo,
bispos de Olinda e de Belém,
respectivamente, seguindo
ordens do papa Pio IX, puniram
religiosos ligados à ma-
çonaria. D. Pedro II, atendendo
a pedidos de grupos ma-
çônicos, solicitou aos bispos
que suspendessem as puni-
ções. Como eles se recusaram
a obedecer ao imperador, foram
condenados a quatro
anos de prisão.
GLOSSÁRIO: Maçonaria. Sociedade
antiga e parcialmente
secreta que, utilizando-se de
conhecimentos dos antigos
construtores de templos (os
maçons), tem como objetivo
principal incentivar a fraternidade
e a filantropia entre todos
os seres humanos, sem
distinção de cor, credo ou origem
social.” (COTRIM, 2010, P.
287).
Figueira (2010) e Vainfas (2010), ao conMAGALHÃES,
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trário dos autores já mencionados, apresentam
de forma um pouco mais ampliada a Maçonaria
em duas páginas, relacionadas à Conjuração Baiana
(Figueira), à Independência do Brasil
(Vainfas) e à questão religiosa (ambos). Apesar
de dedicar espaço e relevo ao tema, Vainfas
(2010) comete um erro grave em “A Maçonaria
no Brasil” (p. 153), ao confundir o Grande Oriente
do Brasil, o poder central que reúne todas as Lojas
Maçônicas do período com uma única Loja.
Uma Loja Maçônica, denominada
Cavaleiros da Luz, funcionava
em Salvador desde julho
de 1797. Ponto de encontro
das figuras da elite da cidade,
a sociedade era o espa-
ço em que se discutiam as
ideias iluministas difundidas
pela Revolução Francesa. Entre
os frequentadores das reuniões
estavam o médico Cipriano
Barata e o tenente Hermógenes
Pantoja, integrantes
do grupo que tramava a Conjuração
Baiana. O governante
de Lisboa já havia sido alertado,
por seu representante na
Bahia, sobre a difusão preocupante
dos “abomináveis princípios
revolucionários franceses”
entre a população baiana.
(FIGUEIRA, 2010, p. 168).
De acordo com a Constituição
de 1824, a Igreja Católica estava
subordinada ao Estado,
que pagava os padres e nomeava
os bispos. Nenhuma
determinação do papa podia
entrar em vigor no Brasil sem
a aprovação do imperador.
Em 1872, os bispos de Olinda
e de Belém, dom Vidal Maria e
dom Macedo Costa, foram
presos e condenados por proibir
a participação de maçons
nas irmandades religiosas,
como recomendava o papa.
Três anos depois, os dois foram
anistiados, mas a punição
deixou claro que haviam dificuldades
incontornáveis nas
relações de dependência estabelecida
entre a Igreja e o Estado.
(FIGUEIRA, op. cit., p.
222).
Apesar da original menção de Figueira à
existência de uma loja maçônica em 1797 exercendo
influência e participando da Conjuração
Baiana, a obra não foge à regra. A Maçonaria é
introduzida sem qualquer explicação ou contextualização
no texto de forma bastante superficial,
dificultando a compreensão por parte do leitor
da efetiva participação desta instituição nos
acontecimentos em tela.
Quanto a Vainfas, o que temos é uma descrição
da origem da maçonaria no Brasil, seguida
da mesma inserção dos autores anteriores, da
maçonaria nos episódios da questão religiosa:
A Maçonaria no Brasil. A Ma-
çonaria é uma associação voluntária
e secreta que se difundiu
na primeira metade do
século XVIII, a partir da Inglaterra
para a Europa e a América.
Seu caráter secreto a envolveu
numa aura de mistério.
A partir de 1750, a associação
passou a ser um espaço de
crítica e de discussão sobre a
sociedade civil. No Brasil, a
primeira Loja Maçônica (local
de reunião dos maçons) surgiu,
comprovadamente, em
1800, na futura cidade de Niterói,
no Rio de Janeiro; era
chamada União. Logo surgiram
outras, em várias regiões.
Em 1818, um alvará proibiu o
funcionamento das Lojas Ma-
çônicas em todo o Império
luso-brasileiro, mas elas não
fecharam.
A Loja mais destacada no período
de independência foi a
Grande Oriente Brasileiro, da
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qual José Bonifácio de Andrada
e Silva foi Grão-Mestre
(presidente). Nela ocorreram
os debates políticos que influenciaram
a separação de Brasil
e Portugal. D. Pedro foi iniciado
na Maçonaria, recebendo
o nome de Guatimozin,
último imperador asteca. Em 4
de outubro de 1822, foi elevado
a Grão-Mestre, e logo
membros da Maçonaria propuseram
sua aclamação como
Imperador do Brasil, fato que
ocorreu em 12 de outubro.
A política do governo de D.
Pedro I em restringir a liberdade
de expressão fez com
que esse tipo de associação
fosse proibido em 1823. Mas
as reuniões prosseguiram
clandestinamente. Foram criadas
novas lojas, de tendência
tanto liberal quanto conservadora,
que funcionavam como
local de debates políticos.
Com a abdicação de D. Pedro
I, em 1831, o funcionamento
das Lojas Maçônicas foi liberado,
mas elas já não tinham o
peso político do período anterior.
Continuaram a funcionar,
mas ligadas a valores não
políticos, como a filantropia, a
beneficência, a sabedoria e a
justiça. (VAINFAS, 2010, p.
153).
À parte do já citado equívoco, ao confundir
o nome da agremiação de Lojas Maçônicas
com uma Loja única, o autor procura contextualizar
historicamente a instituição maçônica no cenário
internacional, a partir de sua origem europeia
e posterior expansão para as Américas; bem
como no cenário nacional, destacando sua importância
na construção dos eventos articuladores
do processo que culminou com a independência
nacional. No entanto, não podemos nos
furtar a destacar outra incongruência no texto
acima, quando o autor faz menção, nas linhas
finais do parágrafo, a perda do “peso político” da
instituição maçônica quando de seu retorno às
atividades, em 1831. Como esta afirmação se coaduna
com o descrito no texto seguinte a mencionar
a ordem maçônica, quando esta, em conflito
com a igreja católica, ao final do segundo reinado,
aparentemente, demonstra grande peso
político? Seria realmente sem peso político uma
instituição que possui como grão-mestre, sua
liderança maior, o próprio presidente do Conselho
de Ministros do Império?
O início da crise começou
com um discurso do padre
Almeida Martins em uma loja
maçônica no Rio de Janeiro,
em 1872, homenageando o
visconde do Rio Branco, então
presidente do Conselho de
Ministros e grão-mestre da
maçonaria pela Lei do Ventre
Livre. Na Europa, a maçonaria
era marcadamente anticlerical.
Mas, no Brasil, os eclesiásticos
faziam parte desta organiza-
ção, apesar de condenada pelo
papa Pio IX desde 1865 como
a responsável pela
“impiedade do mundo”. Além
disso, o Concílio Vaticano I
(1869) decidiu desencadear
uma grande campanha contra
a maçonaria, proibindo a participação
dos católicos, particularmente
os eclesiásticos. O
problema é que, no Brasil, diversos
padres e governantes
pertenciam à Maçonaria.
O discurso publicado na imprensa
repercutiu profundamente
entre os altos membros
da Igreja católica no Brasil.
O padre acabou suspenso
pelo bispo do Rio de Janeiro,
D. Pedro de Lacerda. A maçonaria
reagiu com dureza ao
que considerou uma interferência
da Igreja de Roma nesMAGALHÃES,
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sa instituição por meio do bispo.
Logo depois, ainda em 1872,
outro conflito marcaria a
Questão Religiosa. O jovem
bispo D. Vital Maria Gonçalves
de Oliveira, da cidade de Olinda,
seguindo orientação de
Roma, proibiu a participação
de eclesiásticos em lojas ma-
çônicas. Criou um jornal, A
União, para combater a maçonaria
no Brasil, interditou duas
paróquias que se recusavam a
expulsar os maçons e suspendeu
o deão da catedral, simpatizante
da maçonaria e líder
do Partido Liberal em Pernambuco.
Em reação, a tipografia
do jornal A União foi
saqueada e um sacerdote
morto a facadas.
As bulas papais a respeito da
Maçonaria não haviam recebido
a aprovação do imperador
D. Pedro II. Portanto, sua aplicação
era ilegal.
A Coroa tentou em vão acalmar
os ânimos, pedindo a D.
Vital que revogasse suas interdições.
O bispo manteve-se
irredutível, alegando que somente
devia obediência ao
papa. Foi preso e condenado
a quatro anos de trabalhos
forçados, em 1874. O mesmo
destino foi dado ao bispo do
Pará, D. Antonio de Macedo
Costa, solidário ao colega de
Olinda e também empenhado
em combater os maçons. Ambos
foram anistiados em
1875, graças a pressões de
Roma e à intervenção do Duque
de Caxias, então chefe do
gabinete conservador que governava
o Império. Mas as relações
entre o império e a
Igreja católica estavam definitivamente
comprometidas. Ao
sair da prisão, D. Antonio resumiu
as consequências da
crise dizendo que a Questão
Religiosa abalara o trono, mas
deixara o altar de pé. O bispo
estava certo. (VAINFAS, 2010,
p. 292).
Cremos ser um tanto equivocado, para
não dizer incorreto, em um livro didático, o autor
emitir em seu texto, juízos de opinião do tipo
“certo” ou “errado”, em relação a acontecimentos
históricos. Infração ao ritual
3
(FOUCAULT, 1996)
da escrita didática, inscrita em certos sistemas de
restrição que regulam a forma e a ordem do discurso.
Neste caso, ao afirmar que “o bispo estava
certo” temos um posicionamento nesta área que
não se coaduna com a proposta de um livro didático.
Alguns autores se debruçam sobre a ma-
çonaria no Brasil inserindo-a em outros acontecimentos
que não a questão religiosa especificamente.
Curioso de assinalar é que, nestas demais
obras, a referida questão não é associada à ordem
maçônica, e sua influência no episódio não
é reconhecida. Enfim, quando se trabalha com o
tema maçônico em um determinado episódio
histórico, apaga-se sua participação em outro,
assinalado por outro autor.
Na sequência, portanto, apresentamos as
inserções de Pellegrini (2010), Berutti (2010),
Azevedo (2010), Nogueira (2010) e Alves (2010).
Sobre o conflito de interesses diante da
MAGALHÃES, F. REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS DA INSTRUÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA...
3
A troca e a comunicação são figuras positivas que atuam no interior de sistemas complexos de restrição; e sem dúvida
não poderiam funcionar sem estes. A forma mais superficial e visível desses sistemas de restrição é constituída pelo que
se pode agrupar sob o nome de ritual; o ritual define a qualificação que devem possuir os indivíduos que falam (e que,
no jogo de um diálogo, de interrogação, da recitação, devem ocupar determinada posição e formular determinado tipo
de enunciado; define os gestos, os comportamentos, as circunstâncias, e todo o conjunto de signos que devem
acompanhar o discurso; fixa, enfim, a eficácia suposta ou imposta das palavras, seu efeito sobre aqueles aos quais se
dirigem, os limites de seu valor de coerção.” (FOUCAULT, 1996, p. 38-39).
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permanência de D. Pedro no Brasil, assinala-nos
Pellegrini a influência da ordem maçônica na formação,
constituição, desenvolvimento e atuação
do Partido Brasileiro, força política de acentuada
influência no período em questão, assinalando a
influência da maçonaria na passagem da Colônia
ao Império:
O partido brasileiro, por sua
vez, tinha uma formação diversificada,
que incluía grandes
proprietários rurais, políticos
conservadores, liberais
radicais, republicanos, membros
das camadas médias urbanas,
ex-escravos e, também,
vários portugueses estabelecidos
no Brasil. Muitas dessas
pessoas eram adeptas da Ma-
çonaria. Os grupos que formavam
o partido brasileiro
uniram-se para combater a
proposta de recolonização
feita pelos deputados portugueses.
(PELLEGRINI, 2010, p.
238).
Na mesma página, há um destaque, com
ilustração, explicando o que é a Maçonaria:
Não existe um consenso sobre
a origem da Maçonaria.
Muitos estudiosos acreditam,
porém, que ela tenha surgido
durante a Idade Média, nas
corporações de ofício que
agrupavam pedreiros e arquitetos
(maçon, em francês arcaico,
significa “construtor”),
os quais mantinham em segredo
as técnicas de seu ofí-
cio. No século XVIII, os ma-
çons passaram a participar
ativamente da política, criticando
o Absolutismo monárquico
por meio da defesa dos
ideais liberais inspirados pelo
Iluminismo. No Brasil, o primeiro
registro de uma loja
maçônica, como são chamados
os núcleos maçônicos, é
de 1801, no Rio de Janeiro.
No século XIX eles tiveram um
importante papel na Independência
do Brasil, combatendo
o Absolutismo e o colonialismo.
Foi nas lojas maçônicas
que aconteceram os principais
debates entre os líderes do
partido brasileiro, mobilizando
as forças políticas responsáveis
pela Independência do
Brasil. (PELEGRINNI, op. cit,
ibid)
Apesar de correto, o texto parece
“descolado” do restante da obra, por apresentar
uma noção bem maior da importância da Maçonaria,
do que no restante do livro, onde nada
mais é mencionado à respeito da ordem maçônica.
Em outra obra, o autor Flávio Berutti insere
a maçonaria em um outro evento, até então
não assinalado por qualquer dos autores anteriores,
a conjuração mineira, demonstrando através
da elaboração da bandeira daquele movimento,
e posterior pavilhão do Estado de Minas Gerais, a
influência do movimento maçônico naquele episódio:
p. 169. Para alguns estudiosos,
o triângulo da bandeira
da Conjuração Mineira representaria
a Santíssima Trindade
ou seria uma referência à Ma-
çonaria. Originalmente, a cor
do triângulo era verde. Mais
tarde, quando se criou a bandeira
do estado de Minas Gerais,
optou-se pela cor vermelha,
que simbolizaria as revoluções
e o sangue dos mártires.
(BERUTTI, 2010, p. 169).
Nesta obra, nem a independência nem a
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questão religiosa retratam a Maçonaria. A única
referência em todo o texto é feita quando da
descrição do símbolo da conjuração mineira, que
daria origem à bandeira do Estado de Minas Gerais.
Ainda assim, é colocada uma certa dúvida
quanto à origem maçônica da inspiração do desenho
da bandeira, que poderia, também, ser de
inspiração cristã, ficando no ar a dúvida sobre a
efetiva influência da maçonaria nos episódios ali
abordados.
Já em Azevedo (2010) encontramos outra
referência à influência da maçonaria na história
brasileira: A conjuração baiana. Citando maçons
de influência política expressiva no período, o
autor assinala também, paralelamente, uma das
possíveis origens históricas da maçonaria em
nosso país:
Em meio a essa tensa situação
social e política (A Conjuração
Baiana), em novembro de
1796 chegou a Salvador o capitão
Antoine René Larcher,
que participara da Revolução
Francesa de 1789. Durante o
tempo em que permaneceu
na Bahia, Larcher divulgou
intensamente os princípios
iluministas, propagando os
ideais de liberdade, igualdade
e fraternidade. Simpatizantes
dessas ideias passaram a se
reunir com frequência nos arrabaldes
da capital baiana.
Desses encontros participavam
inicialmente pessoas ligadas
à elite, como o médico
Cipriano Barata, o padre Francisco
Agostinho Gomes e senhores
de engenho da região
do Recôncavo. Em 1797, alguns
desses membros da elite
criaram em Salvador uma sociedade
secreta conhecida
como Cavaleiros da Luz, empenhada
em organizar um
movimento republicano na
Bahia. Para alguns historiadores,
esse grupo seria o embrião
de uma das primeiras
lojas maçônicas do Brasil (veja
a seção enquanto isso...).
(AZEVEDO, 2010, p. 237).
No trecho a seguir, o mesmo autor faz
menção a um dos conflitos internos da maçonaria
no século XIX mais importantes, no sentido
do delineamento da atuação maçônica naquele
período. Realmente, através da leitura dos conflitos
estabelecidos entre as correntes políticoideológicas
dos dois mais expressivos líderes
maçônicos de então, José Bonifácio e Gonçalves
Lêdo, pode-se elaborar uma compreensão bem
mais aprofundada dos eventos e acontecimentos
que conformaram o processo de independência
do Brasil. Infelizmente, apesar da menção ao fato,
o aprofundamento do debate entre estes dois
importantes personagens históricos não se fez.
p. 261. Essa questão (A Independência
do Brasil) vinha
sendo discutida nas lojas ma-
çônicas e passou a ser debatida
também nos jornais. O debate
deu origem a duas correntes
de opinião: a de José
Bonifácio, que propunha uma
autonomia sem ruptura com
Portugal; e a de Gonçalves
Lêdo, proprietário do Jornal
Revérbero Constitucional Fluminense,
que defendia o rompimento
com Portugal.
(AZEVEDO, op. cit. p. 261).
De todo modo, das obras até aqui analisadas,
esta é a que mais coerentemente apresenta
a Maçonaria em seu texto, fazendo menção, ainda
que superficialmente, à participação maçônica
em alguns dos eventos revolucionários brasileiros,
assinalando as correntes de pensamento díspares
que conformavam a atuação maçônica no
período e procurando dar uma visão do pensamento
maçônico em sua ligação com o Iluminismo.
Por fim, há de se destacar a inserção de um
box ilustrado, na página 240 da mesma obra,
MAGALHÃES, F. REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS DA INSTRUÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA...
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que, ao lado de uma ilustração representando
uma iniciação maçônica no século XVIII, reporta
um pouco do simbolismo e ritualística próprias
daquela instituição.
Outro autor, outra referência. Em Nogueira
(2010) encontramos esta única e curiosa associação
entre as ordens maçônica e carbonária.
Curiosamente, o autor parece utilizar a citação à
maçonaria apenas com o intuito de melhor explicar
o que seria a carbonária, seu objeto maior de
interesse:
A semelhança entre a Maçonaria
e a Carbonária incluía o
aspecto espiritual e o político,
pois ambas combatiam a intolerância
religiosa e o Absolutismo.
Os carbonários inspiravam-se
nos ideais iluministas
e na Revolução Francesa; seu
lema era “Liberdade, Igualdade,
Fraternidade”. Embora a
Igreja Católica fosse um de
seus inimigos, eles tinham um
padroeiro, São Teobaldo.
Além da Itália, a sociedade
secreta dos carbonários também
atuou na França, na Espanha
e em Portugal.
(NOGUEIRA, 2010, p. 287).
Nesta obra, há certa confusão entre a carbonária
e a maçonaria por parte do autor. Conflito
este explicitado na afirmação de que esta sociedade
atuou em vários países, sendo a carbonária
uma sociedade revolucionária essencialmente
italiana. Outros aspectos que geram confusão:
Em outra parte do texto, que ocupa uma
página inteira da obra, Garibaldi, o “herói de dois
continentes”, é citado como carbonário, fato esse
que não pode ser questionado, já que há considerável
documentação na historiografia italiana
que comprova o fato. Entretanto, o que o texto
não cita, e seria mais relevante de mencionar em
um livro que se dedica a explicar a história do
Brasil, é que Giussepe Garibaldi também era ma-
çom, já que fora iniciado em Loja do Rio Grande
do Sul, quando por aqui esteve. Por fim, um último
equívoco por parte do autor não pode deixar
de ser mencionado: na ilustração que se apresenta
à mesma página 287, o símbolo representado
na página, o Compasso, é maçônico, e não
carbonário. Esta última baseava sua simbologia
não em instrumentos ligados à arquitetura, como
os maçons, e sim em instrumentos ligados às florestas
e às pedras, como o carvão e algumas espécies
da flora das florestas europeias.
Encerrando esta compilação de obras didáticas,
deixamos para o final o comentário a
respeito da obra de Alexandre Alves (2010), apenas
para deixar assinalado que, quanto a este autor,
nada foi encontrado nos três volumes que
compõem a coleção didática de sua autoria. Não
há qualquer referência à Maçonaria em toda a
coleção analisada.
Considerações finais: Foucault e a ordem do
discurso.
Todo sistema de educação é
uma maneira política de manter
ou de modificar a apropriação
dos discursos, com os
saberes e os poderes que eles
trazem consigo. (FOUCAULT,
1996, p. 44).
Michel Foucault nos alerta para a constru-
ção de uma ordem do discurso, criada no âmbito
da escrita e da construção dos sentidos desta.
Analisando as obras didáticas aqui apresentadas,
percebemos que uma interdição se manifesta. Ao
suprimir da escrita da história a instituição maçô-
nica enquanto lócus de atuação de forças políticas
em diversos momentos da história nacional,
ocorre um apagamento do entendimento político,
na acepção original do termo, enquanto assunto
da polis, através de um sistema de exclusão.
Há que se manifestar, nesse sentido, uma
vontade de verdade que assume a tarefa de resgatar
dos porões da História a maçonaria enquanto
sociedade de discurso (op.cit. p. 40), elaMAGALHÃES,
F. REPRESENTAÇÕES IDENTITÁRIAS DA INSTRUÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA...
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boradora de doutrinas transformadoras do social
em que historicamente se insere. A Educação é o
instrumento pelo qual todo indivíduo pode ter
acesso a qualquer tipo de discurso, rompendo
com o que permite e o que impede o acesso ao
que a sociedade entende como “o secreto”, o
murmúrio das coisas ditas à meia-voz (op.cit. p.
76).
Tentamos aqui realizar uma reflexão sobre
a ciência histórica, visando explicitar seus pressupostos
didáticos. Por outro lado, a Didática da
História, ao se afastar do processo de pedagogização
do ensino e se vincular à Ciência da Histó-
ria, entende o ensino de História como o processo
pelo qual se busca ampliar e complexizar o
pensar histórico humano. Ela se volta, assim, para
os conceitos epistemológicos da História da Educação
e para as reflexões sobre a práxis historiográfica,
visando ampliar a capacidade dos homens
de compreender e explicar, de algum modo,
historicamente, a sociedade em que vive.
Enfim, o que se objetivou neste trabalho foi o
resgate da participação da instituição maçônica
nesta sociedade, com vista a melhor compreender
seus acontecimentos históricos. Afinal:
os discursos não podem ser
aceitos senão quando providos
da função autor (...) De onde
ele vem, quem o escreveu, em
que data, em que circunstâncias
ou a partir de que projeto.
O sentido que lhe é dado, o
status ou o valor que nele se
reconhece depende da maneira
com que se responde a essas
questões. (FOUCAULT, 2001,
p.276).
Encerramos este trabalho não com uma
conclusão, mas com uma proposta aos futuros
autores didáticos. Consideramos que essa articulação
envolve também uma tarefa política situada
no campo das relações entre escola e universidade,
que poderá ser objeto, inclusive, das discussões
a serem travadas no futuro. Citando Roland
Barthes, em O prazer do texto, propomos
aqui uma ideia: “Ideia de um livro no qual estaria
entrançada, tecida, da maneira mais pessoal, a
relação de todas as fruições: as da “vida” e as do
texto, no qual uma mesma anamnese captaria a
leitura e a aventura.” (BARTHES, 1973, p. 176).
Este hipotético livro deveria ter a pretensão,
utópica, reconhecemos em princípio, de
abarcar os projetos dos diversos grupos, dentre
os quais também se insere a maçonaria, que se
constituíram na busca pela construção de um novo
imaginário social em suas épocas, resgatando
uma história “viva” que está, ainda, se escrevendo.
Neste percurso, que fique claro, não se propugna
pela elaboração de uma história totalizante,
mas sim, posicionamo-nos contra o apagamento
de uma fatia relevante para o entendimento
dos motores da história humana. A busca
deste entendimento pode ser caminho profícuo
para o intento de compreender o movimento das
políticas educacionais e os engendramentos que
acusam as permanências e as transformações,
que forjam práticas, trajetórias e sujeitos no tempo
e espaço historicamente determinados.
Em prol deste entendimento didático melhor
elaborado, encerramos com uma reflexão
final, ao “estilo maçônico”, de Roland Barthes:
Na cena do texto não existe
ribalta; não há por detrás do
texto ninguém ativo (o escritor)
nem diante dele ninguém
passivo (o leitor); não há um
sujeito e um objeto. O texto
prescreve as atitudes gramaticais:
é o olho indiferenciado
de que fala um autor excessivo,
Angelus Silésius: “O olho
com que eu vejo Deus é o
mesmo olho com que ele me
vê. (op. cit., p. 140).
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¹ Fernando da Silva Magalhães tem Doutorado em Educação pela UERJ (2013), Mestrado em Educação pela UFRJ (2009),
e bacharelado e licenciatura em História pela UFRJ (1990). É o atual Venerável Mestre da Loja Maçônica União e Tranquilidade.
No. 002 - GOB. E-mail: magallegal@ibest.com.br -
C&M | Brasília, Vol. 1, n.2, p. 103-115, jul/dez, 2013.
Fonte: Revista Ciência & Maçonaria. acesso em http://www.cienciaemaconaria.com.br/index.php/cem/article/view/15/13
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
TELHAMENTO ou TROLHAMENTO???
POR KENNYO ISMAIL.
Muitos irmãos considerados intelectuais de maçonaria já dissertaram sobre qual o termo correto para o exame de proficiência aplicado em visitantes desconhecidos em Lojas Maçônicas. Isso porque as Grandes Lojas brasileiras adotam o termo “trolhamento” enquanto que o GOB adota o termo “telhamento”.
Praticamente todos os que se deram o trabalho de escrever sobre o referido tema, incluindo aí José Castellani, Rizzardo da Camino, e muitos outros, concordaram que o correto é “telhamento”, justificando que “telhamento” tem relação com telhado, cobertura, que simboliza a proteção da Loja, já que o telhado protege o templo das intempéries. E isso se encaixa perfeitamente com a ação de examinar os visitantes desconhecidos, de forma a impedir a entrada de profanos. Daí, esses autores de trabalhos, pranchas, peças de arquitetura e livros reforçam ainda mais essa teoria dizendo que “trolhamento” é trabalhar com a trolha e argamassa, atividade que não teria relação alguma com “cobertura”, ou seja, com a proteção do templo. Correto? Vejamos:
Consultando o Dicionário Priberiam da Língua Portuguesa (dicionário do chamado “português europeu”, visto que o REAA praticado no Brasil tem suas raízes na França e em Portugal, com muitos maçons brasileiros do século XIX tendo iniciado na Maçonaria quando dos estudos em Lisboa), encontramos, entre alguns poucos, o seguinte significado para a palavra “trolha”: “operário que assenta e conserta telhados”. Sendo assim, no bom e velho português, “trolhamento” é assentar e consertar telhados. Já o termo “telhador” significa no mesmo dicionário “aquele que telha”, e o verbo “telhar” significa “cobrir com telha”.
Sim, é exatamente isso que você pensou: se você mora em Lisboa e está com uma goteira em casa, você chama “o trolha” pra consertar seu telhado. Ele faz um “trolhamento”, ou seja, um exame para verificar onde está o problema, e então realiza o conserto.
Dessa forma, pode-se entender que “telhamento” é fazer um telhado, enquanto que “trolhamento” é consertar um telhado. Ora, o templo já está concluído. O examinador apenas verificará se não há uma “telha” fora do lugar ou defeituosa, de forma a evitar uma “goteira”. Então, qual é o termo que melhor se encaixa à ação do examinador? Trolhamento. O examinador está sendo um “trolha”, assentando, ou seja, avaliando se os visitantes têm o nível (grau) necessário para participarem dos trabalhos, e impedindo assim a entrada de “uma goteira” em nosso lar maçônico.
Alguns desses escritores ainda sustentam essa tese de “telhamento”, dizendo que em inglês, o Cobridor Externo é chamado de “Tiler” (termo que gerou o nome Tyler) que, para eles, poderia ser traduzido como “telhador”, ou seja, quem constrói telhados. Mas esse é apenas outro erro grave de pesquisas superficiais. O Dicionário Cambridge de Língua Inglesa, um dos mais completos e respeitados, registra “tiler” como “a person who fixes tiles to a surface”, ou seja, “uma pessoa que CORRIJE telhas de uma superfície”. Conforme o mesmo dicionário, o termo em inglês para quem constrói telhados é “roofer”.
Concluindo: o termo mais apropriado para o exame de visitantes é: TROLHAMENTO.
Parabéns àqueles que mantiveram o uso do termo correto, mesmo contra toda a “literatura maçônica brasileira” que ditava o contrário.
Fonte: No Esquadro.
Acesso em : http://www.noesquadro.com.br/2011/02/telhamento-ou-trolhamento.html
A VERDADEIRA HISTÓRIA DOS PRIMÓRDIOS DA MAÇONARIA NO BRASIL.
POR KENNYO ISMAIL.
Infelizmente, história contada é história modificada. Isso porque a história é contada pelos sobreviventes e, via de regra, romanceada. E os maçons brasileiros, seres humanos como quaisquer outros, não fizeram diferente. Mas o compromisso maçônico da busca irrestrita e incessante da verdade faz com que alguns fatos, geralmente “esquecidos”, devam ser divulgados para que, pelo menos na Maçonaria, conheça-se a história real.
A história que quase todos os historiadores maçons contam é sempre a mesma e é mais ou menos assim: Em 1815, nove maçons fundaram Rio de Janeiro a Loja “Comércio e Artes”, a Loja Primaz do Brasil. Então, depois de alguns anos, em 1822, a Loja já contava com 94 membros, então resolveram dividir a Loja em três e fundar o Grande Oriente Brasileiro, primeira Obediência Maçônica no Brasil.
Na verdade, a Maçonaria brasileira não nasceu no Rio de Janeiro e nem tampouco lá foi o berço da primeira Obediência Maçônica. E, evidentemente, a Loja “Comércio e Artes” nunca foi a “Loja Primaz” do Brasil. Na verdade não foi nem a décima, quanto mais a primeira.
Apesar dos esforços de muitos autores maçons em negar isso, o pioneirismo maçônico brasileiro nasceu no Nordeste, mais precisamente na Bahia. A primeira cidade do Brasil também foi berço da primeira Loja Maçônica: “Cavaleiros da Luz”, fundada em 1797. Nada mais justo. Se quase tudo no Brasil começou lá, por que na Maçonaria seria diferente? O historiador e maçom Borges de Barros, que foi diretor do Arquivo Público da Bahia e relatou pela primeira vez a existência dessa Loja, ainda deu conta de que a Loja “Cavaleiros da Luz” foi a chama principal da Conjuração Baiana. Nada mal para os nossos pioneiros!
Mesmo com a dissolução dessa primeira Loja, com o passar dos anos a Maçonaria foi se desenvolvendo no fértil solo baiano: em 1802 surgiu a Loja “Virtude e Razão” que, depois de breve tempo adormecida, foi reerguida com o nome “Virtude e Razão Restaurada”, na mesma época em que, também de seu espólio, surgiu a Loja “Humanidade”. Ainda no Nordeste, não demorou para que a luz maçônica iluminasse, por influência da Bahia, o Estado de Pernambuco.
Sobre Pernambuco, é necessário aqui um comentário à parte:
Apesar de muitos escritores maçons assim desejarem, a “Areópago de Itambé” não era uma Loja Maçônica. No século XVIII existiam centenas de instituições criadas aos moldes da Maçonaria, usando símbolos iguais e similares, e até dividindo os graus em Aprendiz, Companheiro e Mestre como na Maçonaria. Era uma verdadeira “coqueluche” de Ordens, Clubes e Associações, e era muito comum os homens livres serem membros de duas ou mais dessas diferentes instituições, até mesmo no Brasil. Um exemplo disso é o “Apostolado”, da qual José Bonifácio, Gonçalves Ledo e D. Pedro I também faziam parte. Ser inspirada na Maçonaria não é o mesmo do que ser Loja Maçônica.
Em 1809, atendendo às inúmeras Lojas que já existiam, foi fundado em Salvador o “Governo Supremo” ou simplesmente “Grande Oriente”, a PRIMEIRA Obediência Maçônica brasileira. Não era um “Grande Oriente da Bahia”, como os poucos historiadores maçons que o citam costumam se referir, pois era composto de, pelo menos, 09 Lojas: 03 na Bahia, 04 em Pernambuco e 02 no Rio de Janeiro. Maçons portugueses e brasileiros, muitos deles iniciados na França e Portugal, eram membros dessas Lojas. Tudo isso 06 anos antes da fundação da “Comércio e Artes” e 13 anos antes do GOB. Pernambuco, por contar com maior número de Lojas, ganhou em 1816 uma Grande Loja Provincial filiada ao “Governo Supremo”.
Interessante observar que mais uma vez a Maçonaria se fez presente na história: um dos responsáveis pela formação do Governo Supremo e tido como primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Provincial de Pernambuco, Antônio Carlos de Andrada, foi o líder da Revolução Pernambucana, em 1817. Prova maior do papel decisório da Maçonaria no movimento é a lei régia de 1818 proibindo sociedades secretas no Brasil.
Antes que alguém tente justificar a constante omissão de tais fatos nas “versões oficiais” da Maçonaria brasileira por conta dessas Lojas e Obediência não terem sido regulares, é importante observar que a Loja “União”, fundada em 1800 no Rio de Janeiro e sempre presente nas versões históricas, também era irregular. Somente após a adesão de algumas autoridades públicas, ela foi “refundada”, aparentemente de forma regular, e teve seu nome modificado para Loja “Reunião”. Até mesmo a histórica Loja “Comércio e Artes” foi fundada sem Carta Constitutiva em 1815 e trabalhou de forma irregular até 1818, quando foi fechada. Somente quando de seu reerguimento, em 1821, a “Comércio e Artes” se filiou ao Grande Oriente Lusitano.
Isso só nos mostra que a história da Maçonaria no Brasil é, muitas vezes, contada conforme a conveniência, omitindo os verdadeiros pioneiros em favor dos sobreviventes, ou lembrando deles quando se quer apontar a Maçonaria como protagonista das conjurações. Também é no mínimo intrigante como a Maçonaria esteve presente nos movimentos revolucionários baiano e pernambucano, mas tantos historiadores maçons e não-maçons fazem questão de negar sua participação na Inconfidência Mineira. Mas isso é tema pra outra ocasião.
O importante é reforçar que, antes de fundada uma Loja situacionista, a qual originou a Obediência que promoveu a independência sob a manutenção do imperialismo no Brasil, houveram várias outras Lojas e até Obediências oposicionistas, e muitos de seus membros morreram ou sofreram duras penas defendendo os princípios maçônicos de liberdade e democracia. E a Maçonaria brasileira de hoje tem o dever moral de honrar essa história.
Fonte: No Esquadro. ARQUIVADO EM 1822, COMÉRCIO E ARTES, GOB, HISTÓRIA DA MAÇONARIA, MAÇONARIA NO BRASIL.
Acesso em http://www.noesquadro.com.br/2011/11/verdadeira-historia-dos-primordios-da.html
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Cavaleiros Rosacruzes!
Por Ir.: Espedicto Figueiredo.
(I\ N\ R\ I\).
"Os homens de todas as épocas são parecidos. A história não é tão útil por se encerrar nela o passado, como por se ler nela o futuro".J. B. Say.
"Se não fosse as poeiras que ele ilumina, o raio de luz não seria visível". André Vide.
Na câmara, onde os Cavaleiros Rosacruzes fazem seus trabalhos, há vários objetos e ornamentos para que se possam processar os rituais capitulares do Grau 18. Um deles é uma cruz ansata, com as letras I.N.R.I., alternadamente, em branco e preto, ao lado de um compasso e um esquadro, sobre uma mesinha triangular colocada entre o altar e a entrada do Oriente.
A sigla I. N. R. I. é usada como identificação entre os Cavaleiros Rosacruzes, e vem da própria iniciação do Grau com uma antiga máxima hermética Igne Natura Renovatur Integra! (O fogo renova a natureza inteira!). Ela aparece, também, quando o Cavaleiro é interpelado sobre a Verdade e ele responde que "a viu em Judéia, Nazaré, Rafael e Judá".
O I. N. R. I. de pronto nos leva a pensar em Jesus crucificado, em cuja cruz, sobre a sua cabeça, havia essa inscrição, querendo dizer: "Eis aqui o Rei dos Judeus!".
O Grau do Cavaleiro Rosacruz reflete, pois, a descida sobre nós de profunda tristeza e trevas. Quando em desespero, nós podemos nos dirigir a duas grandes forças motivadoras para nos salvar: a Razão e a Fé. A Razão trata daquilo que pode ser demonstrado, o que é tangível: a Fé vem de dentro de nós, o intangível. Isso é expressado pela Cruz e a Rosa. A Cruz tem sido um símbolo sagrado desde os primórdios da Humanidade: a Rosa significa a ressurreição. Daí um dos símbolos do Grau 18 ser uma Cruz encimada por uma Rosa. A flor da Rosa possui, também, a tripla conotação de Amor, Segredo e Fragrância, ao passo que a Cruz comporta, também, o triplo significado de Auto-sacrifício, Imortalidade e Santidade. Quando se tomam em conjunto esses dois emblemas, como sempre o estão no nome Rosacruz, indicam o Amor do Auto-sacrificio, o Segredo da imortalidade e a doce Fragrância de uma vida santa.
Como se vê, o Grau 18 tem muito a ver com Jesus, apesar de não haver restrição alguma sobre sua aplicação àqueles que não pertencem á fé Cristã. Ao centrado: Trata-se de um Grau de tolerância, convidando os homens de todas as crenças para encontrarem o enriquecimento espiritual.
A Regeneração Universal e o Segredo da (mortalidade constituíam a preocupação máxima dos alquimistas ligados á fraternidade dos Rosacruzes. Com a justaposição da Rosa na intersecção dos ramos da Cruz simbolizavam eles, como se entendeu das inscrições hieroglíficas encontradas no grande triângulo descoberto no templo de Benares, a junção dos dois sexos, que levada, afinal, ao Segredo da Imortalidade. A Rosa era o gracioso emblema da Mulher, a imagem da discrição e portanto o símbolo do "silêncio"; enquanto a Cruz, que para os filósofos herméticos era o símbolo da junção que forma a eclíptica com o equador, com os pontos de cruzamento em "Picies" e "Áries" e outro no centro da "Virgem", significava a virilidade do Sol em toda a sua força criadora. Dessa reunião resultaria a Regeneração Universal, ponto mais alto da doutrina secreta e de partida para a imortalidade.
O I. N. R. I. na Cruz de Jesus foi ditada através da sentença de Pôncio Pilatos:
"Eu, Pôncio Pilatos, aqui presidente do Império Romano, dentro do palácio da arqui-residência, julgo, condeno, e sentencio á morte a JESUS, chamado pela plebe de Cristo Nazareno, de pátria galileu, homem sedicioso da lei mosaica, contrário ao grande Imperador Tibério César.
Determino e pronuncio par esta, que sua morte seja em cruz, ficado com cravos, segundo a usança dos réus, parque aqui, congregando e juntando muitos homens ricos e pobres, não cessou de promover tumultos por toda a Judéia, dizendo-se Filho de Deus e Rei de Israel, ameaçando-os com a ruína de Jerusalém e do sacra templo, negando o templo de César, e havendo tido o atrevimento de entrar com ramos e triunfo, e com parte da plebe, na cidade de Jerusalém e no sacra templo.
Mando que se leve pela cidade de Jerusalém o Jesus Cristo, ligado e açoitado, e que seja vestido de púrpura e coroado de alguns espinhos, com a própria cruz nos ombros, para que sirva de exemplo a todos os malvados, e com ele sejam levados dois ladrões homicidas, e sairão pela porta Yagarda e que se leve Jesus ao pública Monte da Justiça, chamado Calvário, onde sacrificado e morto fique o corpo na cruz como espetáculo a todos os malvados, e sobre a cruz seja posto este titulo nas línguas hebraica, grega e latina: Jesus Nazarenus Rex Jurdeorum (I.N.R.I. ).
Ordeno ainda que ninguém de qualquer estado ou qualidade que seja, se atreva temerariamente a impedir esta justiça par mim determinada, a qual deve ser administrada e executada com toda o rigor e segundo os decretos e as leis romanas e hebraicas, sob pena de rebelião ao império Romano."
(Este documento apareceu publicada no "Jornal de Francfort", número 115,de 26 de abril de 1839 e achado em um vaso antigo, de mármore branca, quando se faziam escavações na cidade de Áquila, no reino de Nápoles, na ano de 1280.)
Diz-nos São João, confirmando:
"E eles tomaram a Jesus, e o tiraram para fora. 17 E levando a sua cruz às costas, saiu para aquele lugar que se chama Calvário, e em hebreu Gólgota. 18 Onde crucificaram e com ele outros dois, um de uma parte, outro de outra, e Jesus no mel. 19 E Pilatos escreveu também um titulo, e o pós sobre a cruz. E dizia a inscrição: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS. 20 E muitos dos judeus leram este título, porque estava perto da cidade o lugar onde Jesus fora crucificado. E estava escrito em hebraico, em grego e em latim. 21 Diziam pois a Pilatos os pontífices dos judeus: Não escreva rei dos judeus, mas o que ele diz: Eu sou o rei dos judeus. 22 Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi. " (JO 19,20)
Evidentemente, Rei Dos Judeus era um título de zombada, pois os seus adversários não queriam entender que sua realeza era doação e serviço. Jesus exercia sua realeza oferecendo o perdão a todos, realizando a reconciliação do homem com Deus e dos homens entre si. E nós estaríamos participando da realeza de Jesus na medida em que fôssemos capazes de perdoar e construir a paz e a reconciliação.
A turba que exigia a condenação a Jesus se sentia ameaçada. Para essa multidão, Jesus era um blasfemador e um perigo diante do poder religioso e civil. Mesmo dizendo que "seu Reino não era deste mundo", era preciso eliminá-lo. Mas Jesus é Rei! A sua Cruz tornou-se sinal de transformação, u'a mensagem de libertação. Ele é o nosso libertador. Liberta os homens, interiormente, de seus pecados e liberta a sociedade de todos os contravalores: poder, riqueza, mentira e opressão; e anuncia os valores do Reino: a solidariedade, a justiça, a verdade, a paz e a fraternidade. Assim, ele não é só Rei Dos Judeus, ele é Rei Do Mundo Todo!
Na verdade, I. N. R. I. é um tetragrama misterioso que encerra o significado secreto da palavra sagrada do Cavaleiro Rosacruz. Não se pronuncia tal palavra sagrada: é solicitada por meio de um interrogatório especial, em que o verdadeiro Rosacruz sabe encontrar duas vezes a palavra sagrada requerida. Alguns rituais atribuem a essas quatro letras o significado Iesus Nazarenus, Rex Iudeorum, mas o fato é que seu uso precede a era cristã e que entre os hebreus foram as iniciais dos nomes atribuídos aos quatro elementos primitivos da antiga física, também conhecidos dos antigos filósofos e por cuja prova ainda passam os iniciados de alguns ritos Maçônicos: I, de lammim = água; N, de Nur = fogo; R, de Ruahar = ar; e I, de labaschah = terra.
Quando os jesuítas adentraram nas assembléias dos Rosacruzes baccnianos, em Londres, com o fim de neutralizarem o fluxo dos modernos princípios filosóficos que começavam a inquieta-los, os ingleses não tiveram contemplação: expulsaram-nos. E eles foram estabelecer-se por conta própria.
Evidentemente, a confusão era a melhor arma, e, assim, apossando-se da quatro letras que constituíam a palavra sagrada dos Rosacruzes em todo mundo, I. N. R. I. , trataram de desvirtuar o sentido hermético, atribuindo-lhe uma significação que tinha o seu apoio na "Mônita", mas que não correspondia de maneira alguma ao sentido dos ingleses: "Jusum Necare Reges Impios" (É justo matar os reis ímpios), o que além do mais visava o Rei da Inglaterra!
A Mônita Secreta foi redigida pelo próprio Ignácio de Loyola (1491 - 1556), em colaboração com Jacopo Laynez, um psicólogo muito sagaz. Tratava-se de uma organização com método próprio de ação sem o que os Jesuítas pouco conseguiriam, pois era preciso velar e ter coesão nos embates. Daí a elaboração pelos primeiros Jesuítas da cana de ação privada, que é a Mônita Secreta. Era o credo esotérico de combate, traçado para uso apenas dos iniciados. Disso resultou o fato de terem os seus ditames permanecido no mais sepulcral dos sigilos por várias décadas. É prodigioso o papel que o Jesuitismo desempenhou em defesa da Igreja Romana e, inclusive, contra a Maçonaria.
Qual era então o verdadeiro significado do tetragrama na filosofia Rosacruciana? Haviam diversos, mas todos num sentido diferente daquele que lhe atribuíam os filhos de Santo Ignácio. Por exemplo, entre os sírios e pensas, era Igne Natura Renovatur Integra e também Ignem Natura Regenerando Integrat, (É pelo fogo que a natureza se renova), alusão ao símbolo astronômico do Sol, ou ao símbolo físico da vida. Entre os alemães, o sentido filosófico era mais profundo: Igne Nitrum Roris Invenitur, tirado de um aforismo dos filosóficos herméticos. Realmente, substituindo-se as iniciais do tetragrama pelas suas correspondentes em língua hebraica verifica-se que os Rosacruzes alemães aludiam, diretamente, aos quatro elementos dos antigos: lammim, o elemento água; Nur, o elemento fogo; Ruahar, o elemento ar; e labaschah, o elemento terra. Na França, os Rosacruzes davam-lhe uma interpretação menos filosófica e mais política: Indefeso Nisu Repellamus Ignorantiam (Por uma ação infatigável destruiremos a ignorância), enquanto que os ingleses, mais sóbrios, davam-lhe um significado que era a aspiração de todos os povos do Universo: Justitia Nunc Regent Imperia (A justiça regerá as nações).
O Rosacrucianismo dos Jesuítas só foi tentado na Inglaterra e, assim mesmo, com insignificante sucesso. O terreno era agreste e faltava aos semeadores o bafo fecundante sem o qual não podiam germinar as suas idéias suspeitíssimas. O temperamento dos ingleses, o seu amor à liberdade e o sentimento de orgulho, que cultivavam em larga escala quanto ao direito da livre expressão do pensamento, eram outros entraves ao progresso da causa jesuítico. Assim mesmo, não fosse o diabo tecê-las, os discípulos de Roger Bacon (1222-1292), criaram u'a nova interpretação para o tetragrama, que, sem fugir á boa hermenêutica rosacruciana, respondia admiravelmente ao capcionismo dos filhos de Santo Ignácio: Jesuitae Nacionum Regunque (Os jesuítas são os inimigos dos povos e dos reis).
Os significados para a sigla I. N. R. I não param ai: outros devem ter e outros poderão advir, pois apercebe-se que ela já se tomou mística e a imaginação do homem não limites. E quando algo dessa natureza está envolta também de mistérios, mulas surpresas nos reservam. Daqui a algum tempo, possivelmente, documentos guardados por outras sociedades darão outras interpretações para o tetragrama I. N. R. I... Esses documentos, provavelmente, existem com acesso somente aos iluminados de tais organizações. Ao contrário do que alguns querem fazer crer, nem tudo foi destruído...
Apesar de não glorificado nas datas festivas e memoráveis da Maçonaria Simbólica, em suas sessões rituais e em suas instruções aos neófitos, não podemos deixar de reconhecer Jesus Cristo como um dos esteios da Ordem, um iniciado e um mestre.
Considerando os exemplos de virtudes maçônicas, como Amor ao próximo, a Caridade,. a Tolerância, que a Ordem adotou, é incompreensível que o nome daquele que nos serve como modelo seja mantido no esquecimento, numa típica atitude de ingratidão e injustiça.
FONTE: Ir.: Espedicto Figueiredo.
Clube Epistolar Real Arco do Templo, São Paulo, SP.
O Clube Epistolar Real Arco do Templo - CERAT, é um clube formado por maçons de diversos estados do Brasil, que tem por objetivo a troca de informações, revistas e artigos de cunho maçônico, e tem na pessoa do Irmão Espedicto Figueiredo o seu maior expoente, sendo o mesmo autor deste trabalho, o qual já foi publicado em vários boletins, jornais e revistas. Visite a página em (http://www.masonic.com.br/trabalho/trabalho.htm).
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20 de Agosto, Dia do Maçom Brasileiro.
Por XIMENES.
Por vezes perguntamos. O que tem levado tantos homens, no mundo inteiro, a abraçar esta Instituição, seguir e difundir seus princípios?
Acreditamos que o motivo fundamental é porque confiamos nos principios sobre os quais ela foi construída: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Crer nos ideais de buscar a perfeição e praticar a beneficência. Aperfeiçoar-se e servir.
Há a lição da irmandade. O sagrado sentimento de união entre os Irmãos, que nos traz a cada sessão e nos faz permanecer num fraterno e imorredouro abraço.
Homens de bons propósitos, perseguindo, incansavelmente, a perfeição. Homens preocupados em ser, em transcender, num preito à espiritualidade e a crença no que é bom e justo. Pregam o dever e o trabalho. Dedicam especial atenção à manutenção da família, ao bem estar da sociedade, à defesa da Pátria e o culto ao Grande Arquiteto do Universo.
Temos perfeita consciência de nosso papel social e da importante parcela de responsabilidade na missão de transformar o mundo, modificando, aprimorando as coisas que nos cercam.
Porque o dia 20 de agosto é considerado o Dia do Maçom no Brasil?
“Em setembro de 1918, o Irmão Antenor de Campos Moura, então Venerável da Loja “Fraternidade de Santos”, propunha ao Grande Oriente do Brasil a instituição do “Dia do Maçom”, que seria comemorado não só como um dia de festa, mas também como um dia de beneficência e de caridade.
Na data fixada, as Lojas de todo o Brasil deveriam realizar uma sessão que fosse Econômica, ou Magna de Iniciação, ou branca; não deveria ser exigido que se cumprisse um programa arcaico e muitas vezes despido de interesse.
Cada Loja que fizesse uma reunião como bem entendesse. Qualquer data poderia ser para o “Dia do Maçom”; a data poderia ser aquela em que esse projeto fosse aprovado.”
Posteriormente foi fixada a data de 20 de agosto, sendo aceita e comemorada por todos.
A explicação para a determinação do dia 20 de agosto baseou-se na histórica Sessão conjunta das Lojas “Comércio e Artes” e “União e Tranqüilidade”, no Rio de Janeiro, onde o Ir∴ Gonçalves Ledo pronunciara um discurso inflamado, fazendo sentir a necessidade de proclamar-se a Independência do Brasil, cuja proposição foi aprovada pelos presentes e registrada em ata no 20º dia do 6º mês maçônico do Ano da Verdadeira Luz de 5822, interpretado como se fosse o dia 20 de agosto.
Na realidade, autores referem um erro histórico, dada a utilização equivocada do calendário gregoriano, ao invés do calendário equinocial, utilizado para o registro da sessão, onde o ano se inicia no dia 21 de março, que leva a reunião para o dia 09 de setembro.
O que isso tem haver com a nossa Independência em 7 de setembro?
O 20 DE AGOSTO, DIA DO MAÇOM, foi escolhido, porque nessa data, que realmente a nação se tornou independente, por força e decisão da maçonaria.
E é uma efeméride nacional consagrada e, como tal, deve ser comemorada com toda pompa, pois a Maçonaria em muito contribuiu para a efetiva emancipação político-social do Brasil e os Maçons de um modo geral devem reverenciar seus membros responsáveis pelas idéias e as efetivas ações, mas sempre sabedores da verdade histórica.
– Esta data consta do art.179 da Constituição do Grande Oriente do Brasil e do art. 275 do Regulamento, ordenando a comemoração da data no dia 20 de agosto.
Desde 1923, encontra-se na BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, a Certidão das Atas do Grande Oriente do Brasil, de 1822, com o título DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA INDEPENDÊNCIA, VOLUME I, LISBOA – RIO DE JANEIRO, 1923 – A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA.
Neste documento, grafa quando se refere à “Ata da Sessão de 20 do 6º mês Ano 1822”, a data correspondente no calendário Gregoriano como “(9 de setembro)”.
Em 20 de agosto de 1822, foi convocada uma reunião extraordinária do Grande Oriente do Brasil por Joaquim Gonçalves Ledo , em face da ausência de José Bonifácio, Grão-Mestre que se encontrava viajando. Gonçalves Ledo seu substituto hierárquico na maçonaria brasileira, profere um eloqüente discurso, na ARLS Arte e Comércio em 20 de Agosto, onde era 1º Grande Vigilante. Expondo aos maçons presentes à necessidade de ser imediatamente proclamada a Independência do Brasil.
Por causa do discurso proferido, a proposta foi votada e aprovada por todos os presentes.
A cópia da ata dessa reunião foi encaminhada imediatamente a D. Pedro I que se encontrava também viajando e, recebeu tal decisão às margens do riacho do Ipiranga em 7 de setembro, ocasião que o Imperador proclamou a Independência do Brasil por encontrar respaldo e mesmo determinação da maçonaria brasileira.
De qualquer maneira, vamos comemorar.
Foi também instituído, em 1994, nos Estados Unidos, o DIA INTERNACIONAL DO MAÇOM, comemorado em 22 de fevereiro, data de nascimento de GEORGE WASHINGTON, o artífice principal da independência daquele país.
Fonte: Ximenes, MM, Advogado. ACESSO EM http://blog.msmacom.com.br/20-de-agosto-dia-macom-brasileiro/
sábado, 15 de agosto de 2015
Ser Mestre Maçom é...
Por Rui Bandeira.
... mais do que uma chegada, uma nova partida, não um objetivo atingido mas um projeto sempre em execução. A Exaltação à Mestria possibilita que o Obreiro atento o entenda desde logo.
Simplesmente, enquanto até aí o maçom teve guias e apontadores de caminhos, quando a Loja concede a um maçom a sua “carta” de Mestre, este sente-se um pouco como aquele que, após as suas lições e o seu exame de condutor, recebe a sua carta de condução: está habilitado a conduzir (a conduzir-se...) mas... inevitavelmente que sente alguma ansiedade por estar por sua conta e risco, sem rede que ampare suas quedas em possíveis erros.
Assim, apesar de serem as mais visíveis manifestações da mudança de estado conferida pela Exaltação à Mestria, não são o seu direito à palavra e o seu direito ao voto que são importantes. Importante é a sua total capacidade de exercer o seu verdadeiro e pleno direito ao seu caminho. O direito a trilhar o seu caminho por si, só, se assim escolher ou assim tiver que ser, ou acompanhado por quem quiser que o acompanhe e que o queira acompanhar, se assim for de vontade dos interessados, pelo tempo que quiser, por onde quiser, como quiser, para o que quiser.
O direito ao seu caminho enquanto cidadão já o tinha desde que atingiu a idade adulta e como adulto foi pela lei do Estado considerado. O direito ao seu caminho enquanto maçom, ou seja, o caminho do aperfeiçoamento, da busca da excelência, da proximidade tão próxima quanto humanamente possível for, da Perfeição, a ser trilhado por si só, como quiser, quando quiser, pela forma que quiser, adquire-o o Maçom com a sua Exaltação à Mestria, após o tempo de preparação que necessário foi para que não seja em vão que esse direito lhe seja conferido, para que efetivamente o exerça. Porque é um direito que o Mestre Maçom deve exercer como um dever, com a diligência do cumprimento de uma obrigação.
Ser Mestre Maçom é, assim, essencialmente cumprir o dever de exercer o seu direito de escolher e percorrer o seu caminho para a excelência.
Para quem andou longo tempo a ser guiado, não é fácil ver-se, de um momento para o outro, responsável pelo seu caminho, sem ajuda, sem orientação, sem rede. Responsável, porque livre, porque pronto, porque assim é o destino do homem que busca o brilho da Luz, da sua Luz. Mas, após uma pausa para ganhar orientação e pesar as suas escolhas, todos os Mestres Maçons seguem o seu caminho – porque para isso foram preparados, por isso são Maçons, com isso são verdadeiramente Mestres.
O caminho que cada Mestre Maçom decide escolher tem em conta a primacial pergunta que faz a si mesmo: Que fazer, como fazer, para ser melhor? A essa pergunta cada Mestre Maçom vai obtendo a sua resposta, pessoal, íntima, tão diferente das respostas de outros quanto diferente dos demais ele é. E é na execução da resposta que vai obtendo, no traçar do trabalho que essa resposta propõe, que o Mestre Maçom constrói, porque construtor é, o seu percurso. E a cada estação conquistada, novamente a mesma pergunta de sempre se lhe coloca: que fazer, como fazer agora para ser de novo melhor? E nova resposta e novo percurso e nova paragem, com nova e sempre a mesma pergunta, com outra resposta e outro percurso, incessantemente se apresentam.
Mas o Mestre Maçom não sabe apenas buscar a resposta à sua pergunta. Sabe também que, embora cada um trilhe o seu solitário caminho, os caminhos dos maçons têm muito de comum e sobretudo são postos por eles muito em comum.
O Mestre Maçom sabe assim que o que adquire, o que ganha, o que aprende, o que consegue, não é para ser avaramente fruído apenas por si, antes é para ser posto em comum com a Loja, pois também é do comum da Loja que recolhe contributos, ajudas, meios, ferramentas, para melhor e mais frutuosamente obter respostas às suas perguntas.
Ser Mestre Maçom é, assim, sempre, dar o seu contributo à Loja, seja no que a Loja lhe pede e ele está em condições de dar, seja no que ele próprio considera poder tomar a iniciativa de proporcionar à Loja. Porque ser Mestre Maçom é também saber que, quanto mais der, mais receberá, que a sua parte contribui para o todo mas também aumenta em função do aumento desse todo e que, afinal, não é vão o dito de que “dar é receber”.
Ser Mestre Maçom é portanto saber que o seu percurso pessoal será mais bem e mais facilmente percorrido se o for com a Loja, pela Loja, a bem da Loja. Porque o bem da Loja se traduz em acrescido ganho para o maçom, que assim consegue realizar o paradoxo de ser um individualista gregário, porque integra e contribui para um grupo que é gregário porque preza e impulsiona a individualidade dos que o compõem.
Ser Mestre Maçom é descobrir que a melhor forma de aprender é ensinar e assim escrupulosamente executar o egoísmo de ensinar os mais novos, os que ainda estão a trilhar caminhos que já trilhou, dando-lhes o valor das suas lições e assim ganhando o valor acrescido do que aprende ensinando – e sempre o homem atento aprende mais um pouco de cada vez que ensina.
Ser Mestre Maçom é comparecer e trabalhar na Loja, mas sobretudo trabalhar muito mais fora da Loja. Porque o que se faz em Loja não passa de “serviços mínimos” que apenas permitem a sobrevivência da Loja e o nível mínimo de subsistência do maçom. O trabalho em Loja é apenas um princípio, uma partícula, uma gota, uma pequena parte do trabalho que o Mestre Maçom deve executar em cada um dos momentos da sua existência.
Ser Mestre Maçom é portanto mais do que aguardar que algo lhe seja pedido, antes tomar a iniciativa de fazer algo – não para ser reconhecido pela Loja, mas essencialmente por si, que é o que verdadeiramente interessa.
Ser Mestre Maçom não é necessariamente fazer grandes coisas, excelsos trabalhos, admiráveis construções. Mais válido e produtivo é o Mestre Maçom que dedica apenas cinco minutos do seu dia a fazer algo muito simples em prol da sua Loja, da Maçonaria, afinal de si próprio, desde que o faça efetivamente todos os dias, do que aqueloutro que uma vez na vida faz algo estentório, notado, em grande estilo, mas sem continuidade. Porque a vida não se esgota num momento, nem numa hora, nem num dia. A vida dura toda a vida e é para ser vivida todos os dias de toda a vida.
Ser Mestre Maçom não é necessariamente ser brilhante, mas é imprescindivelmente ser persistente E o Mestre Maçom que persistentemente realize dia a dia, pouco a pouco, o seu trabalho, pode porventura passar despercebido, não receber méritos nem medalhas nem honrarias, mas tem seguramente o maior mérito, a maior honra, a melhor medalha, o maior reconhecimento a que deve aspirar: o de ele próprio reconhecer que fez sempre o seu trabalho, deu o seu melhor, persistiu na sua tarefa e, de cada vez que olhou para si próprio, viu-se um pouco, um poucochinho que seja, melhor do que se vira da vez anterior. E assim sabe que, pouco a pouco, no íntimo do seu íntimo, sem necessidade que outros o honrem por tal, ganhou um pouco mais de brilho, está um passo mais próximo do seu objetivo, continua frutuosamente percorrendo o seu caminho para o que sabe ser inatingível e, no entanto, persiste em procurar estar tão próximo de atingir quanto possível: a Perfeição!
Em suma, ser Mestre Maçom define-se com o auxílio de uma frase que li há algum tempo e que foi dita por alguém que creio até que nem sequer foi maçom, Manuel António Pina, jornalista, escritor, poeta, laureado com o Prémio Camões em 2011, falecido em 19 de outubro de 2012: o Mestre Maçom é aquele que aprendeu e que pratica que o mínimo que nos é exigível é o máximo que podemos fazer.
Fonte: A PARTIR PEDRA(
BLOGUE SOBRE MAÇONARIA ESCRITO POR MESTRES DA LOJA MESTRE AFFONSO DOMINGUES).
Acesso em http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2013/04/ser-mestre-macom-e.html
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